Por tabata.uchoa
Casa de Luciene Sandes enche após as chuvasErnesto Carriço / Agência O Dia

Rio - “Minha filha acordou pisando numa poça d’água e eu, toda molhada. Sempre que chove forte, o colchão encharca”. O episódio, relatado pela dona de casa Laleska Sandes, 21 anos, aconteceu quando ela se mudou para um dos 374 apartamentos do conjunto habitacional Zilda Arns, entregues em condições precárias, no fim de agosto do ano passado, a famílias de Niterói desabrigadas pelas fortes chuvas de 2010. As unidades do Programa Minha Casa, Minha Vida já estão tomadas de rachaduras, paredes quebradas, infiltrações, goteiras e outros problemas. Os sobreviventes da tragédia temem novo desastre.

Laleska tem duas irmãs com deficiências física e mental e mora em um dos 14 imóveis destinados a pessoas com necessidades especiais. Nem essas unidades ficaram livres dos transtornos. “Esperei essa casa cinco anos com a esperança de que fosse morar num lugar seguro, mas a gente está vendo a tragédia se repetir. Minha laje está rachada de ponta a ponta”, desabafou Luciene Sandes, 44, mãe de Laleska. A casa da família ficava na localidade conhecida como Riodades, no bairro Fonseca, e desabou após um temporal.
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Uma equipe de engenheiros e arquitetos formada pela Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) vistoriou os prédios em 7 de julho e 18 de agosto, antes da entrega aos moradores. O relatório técnico apontou várias irregularidades nas edificações, que representam riscos à segurança e à saúde dos moradores e contrariam as normas do Minha Casa, Minha Vida, sob responsabilidade da Caixa Econômica Federal. A obras foram feitas pela construtora Imperial. Os condomínios Zilda Arns 1 e 2, no bairro Fonseca, receberam investimentos de R$ 20 milhões do governo federal e R$ 5 milhões da Prefeitura de Niterói.
“É inaceitável que as unidades sejam pagas com dinheiro público e os moradores, a maioria de baixa renda, tenham que pagar pela correção das obras ou ficar sujeitos à rápida deterioração dos prédios”, criticou o deputado estadual Flavio Serafini (Psol), que acompanha o caso na Comissão de Direitos Humanos.
Asfalto do Cond. Zilda Arns 2 cedeu Ernesto Carriço / Agência O Dia

Caixa acionou a construtora

A Caixa Econômica informou que acionou a construtora Imperial para que se posicione quanto às reclamações e que uma equipe de engenharia do banco acompanhará a resolução das demandas. Afirmou que recebeu denúncia de vício de construção no residencial Zilda Arns 1, que possui dois blocos com 40 apartamentos, e já interpelou a empresa para que ela se manifeste.

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Em relação ao Zilda Arns 2, que tem sete blocos com 40 imóveis, a Caixa ressaltou que foram abertas oito reclamações — quatro concluídas com a apresentação do ateste assinado pelo reclamante e outras quatro estão no prazo de atendimento. Caso não cumpra suas obrigações, a construtora estará sujeita ao impedimento de contrair novos empreendimentos com o banco.
A Defesa Civil de Niterói fez vistorias no condomínio, constatou problemas, mas não os considerou de caráter estrutural. Por isso, não interditou os apartamentos.
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