Por bianca.lobianco
Rio - Ao contrário do que muita gente alardeou em 2016, o samba só está celebrando cem anos de idade neste fevereiro de 2017. Explico: por haver uma certa controvérsia em relação à autoria, o Donga, de quem fui amigo no MIS e que me contou ser lampeiro frequentador da casa de folguedos negros da hoje antológica Tia Ciata, correu à Biblioteca Nacional (novembro de 1916) e registrou o ‘Pelo Telephone’. Ou seja, 1916 foi apenas o arquivo, ou data de registro. Feita em parceria com o jornalista Mauro de Almeida, que ostentava curiosíssimo pseudônimo de Peru do Pés Frios, a música foi levada ao comecinho de 1917 ao Fred Figner, o pioneiro- fundador da Casa Edison de discos. Que de imediato a gravou na velha bolacha de cera em 78 RPM e a lançou publicamente pelas vozes do cantor Bahiano e da Banda Casa Edison.
Corria o mês de fevereiro quando nas vitrolas mecânicas do Rio começou a ser ouvida aquela peça destinada ao Carnaval (já às portas) e que tinha o inédito gênero indicativo “Samba”, usado pela primeira vez para qualificar uma música.
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Logo o samba primicial ganharia, três semanas depois, as ruas e os clubes do Rio. As gargantas dos foliões bramiam com gozo uma crônica de época: “o chefe da polícia pelo telefone manda me avisar...”
Mas o que seria mesmo aquela mistura de lundu com maxixe, tão buliçosa, tão estimulante, tão nova? O samba seria, apenas duas décadas depois, nos anos 30 e 40, o gênero musical número um do país. Marca e definição da apetência (e sina) miscigênica do povo brasileiro.
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O Instituto Cravo Albin, no Rio, levantou a data. Quando da solenidade da celebração dos 90 anos (2007) de ‘Pelo Telefone’, a viúva do Donga, a venerável Vó Maria, assinou a meu pedido, junto com dezenas de personalidades, uma singularíssima petição promovida pelo Instituto: o tombamento da escola de samba como forma de desfile, a mais luxuosa moldura do samba. Ou seja , um radioso — e inquestionável — bem imaterial do Brasil.
Agora, só agora em 2017, três documentos estarão sendo entregues em dias próximos. O primeiro, ao governador do estado, solicitando o tombo estadual (pelo Inepac); o segundo , ao nosso prefeito do Rio. Pelo que conheço da Liesa e da Secretaria Municipal de Cultura, a assinatura do ato deverá ser acolhida por uma robusta manifestação popular. O terceiro ofício irá para as mãos do ministro da Cultura, remetendo-o ao registro formal de tombamento da forma das escolas de samba pelo Iphan. Até porque essas agremiações promovem o maior desfile de arte popular em todo o mundo, fenômeno de larga e pacifica aceitação.
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Quem for contra que discorde. Duvi-dê-ó-dó que um ouse ser refratário à manifestação do mais opulento espírito carioca. 

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*Ricardo Cravo Albin é presidente do Inst. Cultural Cravo Albin