Mônica Sá - Divulgação
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Por Mônica Sá*
Tolerância e intolerância, na atualidade, caminham lado a lado, separadas apenas por um filete de esperança. Tolerância é o “direito que se reconhece aos outros de terem opiniões diferentes ou até
opostas às nossas”, ou seja, é a aceitação da diferença, mesmo que haja divergência. Já a palavra “intolerância” vem do latim intolerantia, que significa impaciência de suportar, aguentar, inflexibilidade. A intolerância está ligada à dificuldade de reconhecer a expressão da condição humana no que nos é absolutamente diverso. Assim, intolerância é uma atitude mental caracterizada pela falta de habilidade ou vontade em reconhecer e respeitar diferenças em crenças e opiniões. Num sentido político e social, intolerância é a ausência de disposição para aceitar pessoas com pontos de vista diferentes. A xenofobia é também ligada intimamente a intolerância religiosa; pois se a religião é uma característica de destaque na
cultura de um povo, podemos considerar que o ataque a uma determinada religião está também relacionado àquele povo, como ocorre com muçulmanos e povos do oriente. Para se ter uma ideia, dados do antigo
Ministério dos Direitos Humanos, destacam que entre 2015 e 2017, foi registrado no Brasil uma denúncia de intolerância religiosa a cada 15 horas, sendo os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, o
que mais se destacaram.

As estatísticas mostram ainda que 25% dos agressores são identificados como brancos e que 9% das ocorrências são registradas por atos praticados dentro de casa. Vale lembrar ainda que a maioria das vítimas de intolerância é composta por adeptos de religiões de matriz africana. Já os católicos, que são 64,4% dos brasileiros, tiveram registrados 1,8% das denúncias de intolerância, e os protestantes com 22,2% da população, registram 3,8%. Agora, os adeptos de religiões de matriz africana como candomblé, umbanda e outras denominações, que juntos representam 1,6% da população brasileira,
aparecem com cerca de 25% das denúncias de crimes de ódio e intolerância religiosa.

No Rio de Janeiro, o ódio e a intolerância contra religiões fazem vítimas: Em junho de 2015, no bairro da Vila da Penha, uma menina de 11 anos foi apedrejada, quando saia de uma festa em uma Casa de
Candomblé. Quando o grupo saia do barracão, vestidos com trajes brancos, dois homens em um ponto de ônibus do outro lado da rua começaram a insultá-los e a atirar pedras, sendo que uma menina foi
atingida chegando a desmaiar.

A partir daí, iniciou-se uma campanha pelas redes sociais contra a intolerância religiosa com a frase “Eu visto branco, branco da paz, sou do Candomblé, e você?”. Diante disso, é o caso de nos perguntarmos: que dimensões assumem a intolerância religiosa no Brasil? É grande ou pequena? É explícita ou camuflada? É regra ou exceção?

Antes deste acontecimento, que é mais um entre milhares, e devido ao aumento da diversidade religiosa e ao crescimento da discriminação religiosa, foi criado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa por meio da Lei nº 11.635, de 27 de Dezembro de 2007, como um reconhecimento da existência da questão no Brasil. A data foi escolhida em virtude de um episódio ocorrido na Bahia em Janeiro de 2000, quando a ialorixá Gildásia dos Santos, A Mãe Gilda de Ogum, fundadora do Axé Abassá de Ogum, em Itapuã (BA) foi atacada dentro do terreiro. Mãe Gilda fora vítima de fanáticos religiosos de uma das vertentes da religião evangélica, além de ter sido injustiçada pela publicação de matéria em um jornal evangélico. Ao ver a notícia na qual difamava seu nome e o de sua crença, teve um ataque cardíaco fulminante.

Assim, em nome da liberdade de pensamento e de religião, devemos repudiar os atos de violência cometidos e estar sempre alerta em defesa da legalidade democrática.

*Mônica Sá é bacharel em Direito e estudiosa em religião afro brasileira