A jornalista e escritora Isa Collin
A jornalista e escritora Isa CollinDivulgação
Por Isa Colli*
O Brasil vive a fase mais aguda da pandemia de covid-19 com números alarmantes de mortes diárias e falta de leitos de UTI nos hospitais. A crise sanitária agrava o desemprego e joga um número cada vez maior de brasileiros no mercado informal e precário. O cenário de descontrole desencadeia o aumento da pobreza extrema no país e o mais doloroso: a fome.

A última Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, divulgada em setembro de 2020, aponta que 10,3 milhões de brasileiros passam fome — um aumento de três milhões nos últimos cinco anos. A quantidade de pessoas em situação de extrema pobreza dobrou no ano passado, atingindo 12,8% da população, de acordo com dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Se levarmos em conta que já estamos no mês de abril de 2021, certamente esses índices já pioraram.

A ONU alerta que a acentuação da fome extrema é um problema mundial que precisa ser enfrentado pelas autoridades. Em algumas regiões do Iêmen, do Sudão do Sul e no norte da Nigéria, famílias estão morrendo de fome, revela relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e do Programa Alimentar Mundial (PAM). A situação também afeta os países latinos.

Como alguns já sabem, vivo na Bélgica, mas sou brasileira e tenho minhas raízes fincadas no país. Sofro pelos povos de todo o mundo, mas direciono meu olhar mais atento para a minha gente. Os brasileiros que estão em situação de vulnerabilidade lutam para manter a esperança.
Com o valor do auxílio emergencial reduzido, famílias se preocupam em colocar comida na mesa, mas esbarram na falta de emprego e nos altos preços dos alimentos. A situação é agravada pela suspensão das aulas, especialmente na rede pública de ensino, já que muitas crianças faziam na escola a principal refeição do dia. Uma lei federal aprovada no ano passado, deveria garantir a conversão da verba destinada à merenda em cesta básica. Na prática, no entanto, isso não acontece em muitos municípios.

O poder público e os órgãos internacionais têm o dever de atuar para conter o avanço dramático da escassez de comida, mas nós também podemos agir. Há várias iniciativas sérias com esse propósito. O site "Tem Gente com Fome", por exemplo, recebe as doações de qualquer valor, e as contribuições viram cestas básicas. O projeto tem o apoio de várias entidades e coletivos, entre eles, Anistia Internacional, Redes da Maré, Instituto Ethos e Coalizão Negra por Direitos.

No momento, não há outra saída senão a ajuda emergencial da maneira que é possível para cada um. Solidariedade é uma palavra que nunca foi tão necessária de se colocar em prática.

É escritora e jornalista