Por Paulo Hugo Ramos*
Embora os dados divulgados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) apontem recuo na atividade industrial no primeiro trimestre deste ano, em função da pandemia de covid-19, sabe-se que as dificuldades enfrentadas pelo setor industrial fluminense antecedem esse período. Enquanto alguns estados brasileiros amargam processo de desindustrialização, o Rio anseia e luta pela sua reindustrialização.

Porém, pode haver luz, ou melhor, gás no fim do túnel. Um ponto de esperança está no novo Marco Regulatório do Gás Natural (Lei 14.134, de 2021). Com isso, espera-se, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), investimentos da ordem de R$ 50 bilhões no país e o Rio possui atributos para essa disputa. Do ponto de vista logístico, por exemplo, o estado tem rede modal completa que abrange milhares de quilômetros em rodovias e ferrovias, além de portos e aeroportos.

Mas, se por um lado o empresariado vislumbra uma retomada da cena industrial fluminense, por um outro, algumas medidas vão de encontro a esse movimento. Falando especificamente do setor químico, o fim do Regime Especial da Indústria Química (REIQ), criado em 2013 para alavancar a competitividade das empresas instaladas no Brasil frente ao mercado internacional, colocaria o nosso país em grande desvantagem.

Já quando trazemos esse cenário para a realidade do parque industrial do Rio, onde a indústria química está presente em todas as suas regiões e representa 4% do PIB do estado, não estamos falando apenas sobre a iminente perda de receita. Há de se considerar o impacto socioeconômico direto na força de trabalho de quase 15 mil empregos formais e, consequentemente, um aumento da fila do desemprego que já chega a quase 1,5 milhão de pessoas. Isso porque, de acordo com dados do IBGE, o Rio é o quarto estado com maior número de desempregados no Brasil.

No caso do Polo Gás-Químico de Campos Elíseos, localizado em Duque de Caxias, segundo município em arrecadação de ICMS no estado, a importância do polo é tanta, que ele responde por 65% do orçamento municipal. Em termos de geração de riqueza para todo o estado e considerando apenas a indústria do plástico, no ano passado foram arrecadados R$ 349 milhões em ICMS.

Diante desse cenário, as empresas e o estado poderiam ter mais diálogo para a construção de parcerias estratégicas. Já que quando uma indústria é instalada, ela passa a ser uma peça propulsora para o desenvolvimento de toda uma região e das comunidades vizinhas, com ações e programas sociais. E quando ela fecha as suas portas ou reduz postos de trabalho, o impacto não chega apenas à administração pública, mas também à vida de milhares de famílias.

*É diretor Industrial da Braskem no Rio de Janeiro.
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