Arte Opinião 06/09/21Paulo Márcio

A crise política brasileira passou a frequentar o noticiário internacional. Não é mais a orquestração das esquerdas inconformadas com a vitória eleitoral das direitas, com mais de dez milhões de votos de vantagem. Agora, é muito pior para o país.
O presidente Bolsonaro é alvo de críticas e exposto ao ridículo, alimentando a campanha contra os populistas que não são de esquerda. Infelizmente, para os brasileiros, o presidente, com o seu comportamento, fortalece os que acham que a pandemia, interrompendo o crescimento do país com sua política econômica, despertou um viés psicopata em sua personalidade.
Não é normal um presidente usar de palavreado de baixo nível, insultar de forma grosseira autoridades, como foi o caso do ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, um jurista renomado. Muito menos a maneira com que se refere aos senadores que comandam uma Comissão de Inquérito que apura suas responsabilidades nas mortes de quase 600 mil brasileiros pela covid. A mídia toda contrária.
Semana passada reagiu mal a uma manifestação empresarial pedindo uma trégua pelo bem do país. O presidente está visivelmente isolado, sustentado por uma popularidade em queda, mas de adeptos incondicionais. Sua agenda se resume a conversas com populares, viagens para inaugurar obras e passeios de motocicleta, sempre usando da palavra para agressões, entrevistas as rádios do interior. A família atrapalha cada vez com a inoportunidade de passarem a morar acima do razoável.
Em relação à pandemia, está constatada sua negligência, a demora na compra de vacinas, o desacreditar de uma das vacinas mais usadas no Brasil, compradas e aplicadas por seu governo. Leva as divergências para o lado pessoal. A CPI do Senado, para sua sorte, se perde ao destilar ódio contra o presidente, o que nem precisaria para condenar o negativismo absurdo, que inclui se negar a usar máscaras e constranger seus ministros a o acompanharem.
Esse presidente sem rumo, entretanto, é o chefe de um governo que vem acertando na gestão do país, inclusive em meio à pandemia. A Economia não reage melhor pela lentidão da imunização, onde errou. E agora pelo seu descontrole que desestabiliza o país.
O governo atual encontrou cerca de cinco mil obras paradas e abandonadas em todo o país. Resolveu terminar o maior número possível delas, o que vem fazendo com sucesso. No mais, tem licitado para a livre empresa estradas, portos, aeroportos. Vai tentar vender os Correios. Está vendendo participações em empresas e até imóveis. Tudo como deve de ser.
Não consegue aprovar as reformas que o país precisa para atrair investidores pelas suas dificuldades com o Parlamento, no qual chegou a ter maioria. Mas foi brigando, brigando até chegar à situação atual em que tem de negociar a cada votação. Um desastre político.
A livre empresa reage e acredita na recuperação, pois o país não tem tido greves, nem invasões de propriedades, nem a cobertura do governo a causas inibidoras do desenvolvimento. A corrupção caiu muito. As polícias nunca apreenderam tanta droga. As estatais estão dando lucro. Os saldos no comércio exterior estão entre os maiores da história do Brasil.

Com Bolsonaro à frente, o momento brasileiro faz lembrar o livro e o filme de sucesso no século passado, ‘O médico e o monstro’. Realmente, convivem no personagem as duas criações do livro de Robert Louis Stevenson, o dr. Hyde e o dr. Jekyll.
As esquerdas – desmoralizadas com os escândalos dos governos Lula e Dilma, a quase falência da Petrobras, o aparelhamento da máquina pública, incluindo o Judiciário entregue a militantes – acabam por se beneficiarem deste caos provocado pelo comportamento do presidente. A crise provoca uma solução para a paz, dentro da Constituição. Cômico, se não fosse dramático.
Aristóteles Drummond é jornalista