Yedda Gaspar, presidente da Federação dos Aposentados do RioReginaldo Pimenta

É incrível como as nossas autoridades, a cada dia, se superam no tratamento que dispensam às classes menos abastadas da nação. O último descaso foi o anúncio de que o salário mínimo, em janeiro do próximo ano, não terá aumento real, o que significa que, com a inflação verdadeira para os pobres, os ganhos reais, conquistados em governos anteriores, se perderão ralo abaixo.
Um aumento de 7%, ou de R$ 69 no salário mínimo, significa R$ 2,30 por dia. Ao mesmo tempo, alimentos, como a carne bovina e aves, tiveram elevação de 30%; o arroz, 30,5%; o feijão, 17,3% e o óleo de soja em incríveis 70%, segundos dados da Fundação Getulio Vargas (FGV). Somente o botijão de gás consome cerca de 10% do salário mínimo.
Ora, sabemos que grande parte dos trabalhadores e a maioria de aposentados e pensionistas recebe o piso nacional. Perto de aumentos de preços, como os que a FGV aponta, e outros, como os do alho ou dos medicamentos de uso continuado, anunciar R$ 69 de aumento, R$ 2,30, por dia, é deboche e uma grande covardia com a maioria da população brasileira.
Nem vou afirmar, aqui, que o salário mínimo deveria ser de R$ 5.421, como preconiza o Dieese. Afinal, somos representantes de aposentados e pensionistas, já temos uma certa idade e maturidade suficiente para não acreditarmos em Saci Pererê. Mas que o governo poderia continuar com algum aumento real e, assim, valorizar, aos poucos, o salário mínimo, isso podemos afirmar. Até porque foi feito em outros governos.
O que não podemos aceitar calados é o deboche e a covardia que se pretende fazer com um reajuste para milhões de brasileiros que não dá para pagar um simples cafezinho. No mesmo ano em que o presidente da República aumentou o próprio salário e o dos ministros militares em 69%.
Yedda Gaspar é presidente da Federação das Associações dos Aposentados e Pensionistas do Estado do Rio de Janeiro (Faaperj).