Júlio Furtado, colunista do DIADivulgação

E o desconhecido vai se revelando através de mutações, fazendo do tempo muito mais uma arma do que um remédio. Do lado de cá estamos nós, combalidos pela falta de liberdade, pelo medo e pela incerteza, assistindo sem forças o enfraquecimento dos nossos anticorpos. O vírus, igualmente, desafia as vacinas que, hesitantes, tentam imunizar o máximo que conseguem. A tal terceira dose ou dose de reforço e o reforço na autovigilância parecem ser a melhor estratégia para afastar esse perigo letárgico que nos assombra em ciclos, em capítulos de uma novela mexicana.
Fico a pensar se todo processo que exige persistência, de certa forma exige doses de reforço, geralmente, não injetadas e nem contidas em seringas. O trabalho cotidiano, a manutenção de uma boa saúde, o casamento e a motivação para atingir aquele objetivo também tendem a enfraquecer os anticorpos de nossa força de vontade e nos fazem necessitar frequentemente de “doses de reforço”, sob pena de sucumbirmos.
Os novos tempos vão se revelando através de novos riscos e desafios, impondo-nos uma resiliência tardia e disruptiva, diante do enfraquecimento de nossas certezas, teorias e paradigmas. E a Educação se mostra desafiada a continuar a ser o grande antídoto à insensibilidade, ao egoísmo e ao radicalismo. É nesse contexto que listamos as doses de reforço de que a Educação tanto necessita nesse momento.
A primeira delas é o reforço da crença de que todas as crianças têm o direito e podem aprender. Esse reforço vai criar “anticorpos” que previnem contra o desânimo e a postura de que não dará para recuperar o tempo perdido. Nesse momento é fundamental que nos voltemos para o resgate das aprendizagens essenciais que darão sustentação às demais aprendizagens necessárias.
Outra dose necessária é com relação à crença de que um alicerce bem construído possibilita a construção de estruturas firmes e seguras. Na escola, isso será possível através de um currículo contínuo em espiral que garanta a retomada de tudo que não tenha sido bem aprendido.
Esse reforço vai criar “anticorpos” que previnem contra o conteudismo exacerbado que nos levaria à compulsão de ensinar correndo para colocar tudo em dia. O principal reforço, porém, é com relação à crença de que podemos seguir em frente e superar, de vez, esses tempos sombrios.
Júlio Furtado é doutor em Ciências da Educação