Vereador Tarcísio MottaRenan Olaz/CMRJ

“É preciso fazer dinheiro”, diz o ministro da Economia, Paulo Guedes. Aí, o que ele faz? Em vez de pensar políticas que produzem receita para o governo, olha para os patrimônios públicos que estão mal geridos pelo próprio governo e decide vendê-los: ótima iniciativa para ficar sem dinheiro e sem patrimônio. Não precisa ser economista para perceber que isso não vai dar certo, basta conhecer aquela piada do mané que, para resolver o problema da geladeira vazia, vende a própria geladeira.

Com um enorme feirão de imóveis federais do Rio de Janeiro em andamento, o Ministério da Economia nos dá mais uma prova de que não tem compromisso com o bem comum, com o que é nosso, além de atestar que não entende nada sobre nossa cidade. Quem conhece o Rio de perto sabe muito bem que, além da preservação da memória urbana e do fortalecimento da Cultura carioca, o poder público precisa priorizar programas de moradia popular para reduzir a desigualdade social da metrópole, cuja população em situação de rua não para de crescer e onde centenas de milhares de famílias vivem em condições precárias de moradia. Apesar disso, o prefeito, que prepara o seu próprio feirão de imóveis municipais, comemora e aplaude sorridente!

A infraestrutura pública do Rio deveria estar a serviço de políticas públicas que visem promover, defender e garantir o direito à cidade a todos, mas a dupla Guedes e Paes prefere tratar o município como um balcão de negócios e entregar bens comuns de bandeja para o mercado imobiliário, governando o espaço urbano como um supermercado, onde o lucro de poucos está acima da vida do povo, e o dinheiro é mais livre que as pessoas.
A incapacidade de elaborar projetos para dar função social a esses imóveis é um reflexo da visão míope do governo federal e da prefeitura. Como eles não têm um projeto de desenvolvimento sustentável para o Rio, a resposta tosca que apresentam para lidar com a crise econômica é colocar o patrimônio carioca à venda, em liquidação. E assim, cegos pela ganância do imediatismo, sufocam qualquer esperança de pensar um novo futuro.

O primeiro feirão já traz uma lista diversa: tem terreno em São Cristóvão, casas no Rio Comprido, sobrados na Saara, até imóveis que já fazem parte da história da cidade, como o prédio do Mercadinho São José, em Laranjeiras, e o Teatro Cacilda Becker, no Catete. O Palácio Capanema, que chegou a ser cogitado como um dos bens a serem vendidos, não aparece nesta lista, mas isso não quer dizer que está a salvo, já que o governo federal entende que pode vender qualquer imóvel da União, basta receber uma oferta. Afinal, a sanha espoliativa do governo Bolsonaro trata os patrimônios brasileiros como meros ativos de mercado.

A esta altura do campeonato, em meio à maior crise sanitária e econômica do século, brigar para preservar o patrimônio público no Brasil é brigar por direitos básicos, como moradia e Cultura, para que, enfim, possamos olhar para o futuro e criar projetos que encham de fato a geladeira.

Tarcísio Motta é vereador no Rio de Janeiro pelo Psol.