Vereadora Monica Benicio (PSOL)Arquivo Pessoal

“Relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida” foi uma frase dita por um presidente, de um país chamado Brasil, em pleno século 21 durante uma pandemia sem precedentes. No futuro, se algum pesquisador esbarrar por essas linhas, certamente se perguntará: como esse sujeito se elegeu presidente do Brasil? Como esse sujeito cumpriu seu mandato até o final?

Para facilitar a vida do pesquisador do futuro, vou dar algumas pistas. Estamos em novembro de 2021 e o TSE decidiu não cassar a chapa Bolsonaro-Mourão por disparos massivos de fake news. Por outro lado, o mesmo tribunal opinou pela cassação do mandato do deputado estadual mais votado do Paraná, Fernando Francischini. Mas você, pesquisador do futuro, deve está se perguntando: que negócio é esse de fake news?

A prática de fake news consiste em disseminar mentiras, no intuito de macular o caráter e a imagem de uma pessoa, propagar informações falsas, a fim de causar pânico, distorcer fatos e até inventar histórias completamente inverídicas.

Só no Brasil, com a pandemia ainda em curso, já foram 610 mil vidas ceifadas até o momento. O presidente genocida não só se posicionou contrário a todas às recomendações da OMS, como foi além: boicotou-as de todas as formas possíveis. O resultado foi milhares de famílias enlutadas, mais de 20 milhões de brasileiros na extrema pobreza, 15 milhões de desempregados e uma inflação crescente roendo os rendimentos das famílias.

A vida, as instituições e a democracia brasileira foram corroídas pelas fake news, pesquisador do futuro. Eu mesma fui atingida por elas, no momento mais difícil da minha vida. No dia 14 de março de 2018, minha companheira Marielle Franco, então vereadora na cidade do Rio de Janeiro, foi brutalmente assassinada. Em instantes surgiram nas redes de ódio as fake news que justificavam o assassinato dizendo que Marielle estava em dívida com uma facção criminosa. Até uma desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio usou suas redes sociais para difundir essa história falaciosa.

Hoje eu sou vereadora na Cidade do Rio de Janeiro e apresentei o Projeto de Lei que instituiria um programa municipal de combate a notícias falsas. Mas sabe o que aconteceu com ele? A Comissão de Justiça e Redação da Casa deu parecer pela inconstitucionalidade. A proposição previa advertência, multa, suspensão e cassação de alvará, de forma gradativa, a estabelecimentos na cidade que divulgassem e/ou patrocinassem fake news. As redes de ódio bolsonaristas criaram raízes profundas em toda a institucionalidade brasileira.

Agora, pense também, pesquisador ou pesquisadora do futuro: se você chegou até aqui, nestas últimas linhas, é porque vencemos. A pesquisa, a Ciência, a empatia e o desejo pelo futuro derrotaram as fake news, a intolerância, o autoritarismo e o obscurantismo. Pesquise, pesquise muito, para que ninguém esqueça, para que nunca mais aconteça.
Monica Benicio é arquiteta urbanista e vereadora do Rio de Janeiro (PSOL)