Luís Augusto Russo - Médico, Mestre em Endocrinologia e Diabetes pela PUC-RJ, Doutor em Saúde Coletiva da Criança e da Mulher pela Fiocruz, pesquisador principal e diretor do IBPCLIN - Instituto Brasil de Pesquisa Clínica.Divulgação

O acerto da política de imunização em massa no combate à pandemia do novo coronavírus é incontestável, conforme o demonstram as estatísticas. Basta dizer que, no Estado do Rio de Janeiro, em outubro, a taxa de diagnósticos positivos de covid-19 desabou para 10%, contra um índice de 48% no pico da pandemia, em abril do ano passado, e de 42%, em dezembro, quando da “segunda onda”.
Contudo, mesmo para indivíduos vacinados, há chances de recontaminação por novas cepas. É relevante mencionar que essas variantes tendem a ser, em tese, menos letais, porém, mais transmissíveis. Países europeus em estágio avançado de vacinação registraram um recrudescimento das contaminações.
Uma das lições que podemos tirar do que ocorre hoje na Europa é que a vacina, embora indispensável e prioritária, não elimina completamente a infectividade da doença. Mais: a partir de agora, a covid-19 tende a ser endêmica no mundo. Isso significa que talvez tenhamos que nos vacinar de tempos em tempos, como nos habituamos a fazer em relação às viroses gripais.
Para o surgimento de novos casos na Europa, a “Teoria Multifatorial” nos dá respostas relevantes, entre elas, a queda natural da proteção da vacina em idosos; a tendência de as pessoas ficarem mais aglomeradas e em espaços fechados com a chegada do inverno europeu; o fato de a vacinação lá ter começado há mais tempo, com a imunidade tendendo a decrescer; a resistência de grupos antivacina, que compromete uma maior imunização; e a flexibilização das medidas restritivas ter sido feita antes do tempo.
Ainda é prematuro abandonar as medidas preventivas básicas, como o uso de máscaras e o asseio regular das mãos. E é imperativo que nos dediquemos ao desenvolvimento de medicamentos eficazes, em especial antivirais, para o combate à doença. O Brasil goza de reconhecimento internacional pelos programas de que já participa, em parceria com laboratórios de todo o mundo, para o desenvolvimento de novos fármacos, notadamente contra a  covid-19.
Esses programas, com a participação de voluntários em todo o país, foram aprovados graças ao trabalho diligente das autoridades regulatórias (Anvisa e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, do Conselho Nacional de Saúde), e merecem ser divulgados. Ser voluntário em estudo clínico é uma atitude fundamental para a Ciência, algo que é considerado um dever cívico em países do Hemisfério Norte.
Quanto maior for a participação de voluntários, mais rápido serão colhidos os resultados, e maiores serão os benefícios gerados para a sociedade. Começamos a colher os resultados da massiva vacinação, porém, a imunização, sozinha, não será capaz de combater a covid-19. Daí a necessidade de continuarmos com as medidas de proteção e na busca de novos medicamentos, por meio de projetos inovadores com antivirais. Para tanto, o apoio da sociedade será fundamental.
Luís Augusto Russo é médico, mestre em Endocrinologia e Diabetes pela PUC-RJ, doutor em Saúde Coletiva da Criança e da Mulher pela Fiocruz, pesquisador principal e diretor do IBPCLIN - Instituto Brasil de Pesquisa Clínica