Marcus Vinicius Dias - Médico e gestor público.Divulgação

A pandemia colocou no centro das discussões sociais questões relacionadas à Saúde, tais como: o tratamento precoce, a vacinação emergencial, o uso de máscaras, o passaporte sanitário, o SUS etc. Também neste bojo vieram discussões sobre a Saúde Suplementar, entre elas a verticalização e a possibilidade de venda de planos de saúde populares.
Os favoráveis à verticalização advogam o ganho de eficiência gerencial que se obtém “amarrando” todas as pontas do sistema, desde a venda do plano até a prestação do serviço de saúde em rede própria. Os contrários, que este modelo nivela por baixo o serviço, visando sempre o viés de custo como balizador do cuidado, levando, em última análise, à desassistência.
Os defensores dos ditos planos populares argumentam que o consumidor tem o direito a ter todas as opções do cardápio em sua mão e que, uma vez no mercado suplementar, essa massa de usuários desafogaria o SUS e aumentaria, relativamente, o orçamento per capita efetivamente executado na Saúde pública. Na outra ponta, os opositores da ideia dizem que essa seria uma forma de aumentar os lucros das operadoras, deixando o maior sinistro para os cofres da viúva, especialmente na alta complexidade não coberta por tais planos.
Com essas premissas não se pode aferir de modo mais efetivo quais dos argumentos são válidos, se é que algum deles o é. Sem medir desfecho, toda esta discussão se torna inócua, para dizer o mínimo. Se as redes verticais têm menores índices de mortalidade cardíaca após uma angioplastia - a um menor custo -, do que as não verticalizadas, elas podem ser de melhor qualidade, por exemplo.
Se os planos populares diminuírem de modo significativo os casos de hipertensão, de diabetes, de câncer e demais doenças crônico-degererativas de sua população assegurada, eles podem sim “desafogar” o sistema público de Saúde e, portanto, serem bem vindos, nesta ótica.
Mas a defesa, pró ou contra, destas e de outras teses relacionadas aos sistemas, público e privado, de Saúde, sem a necessária mensuração e ampla divulgação dos resultados assistenciais, são apenas uma versão health do problema do espantalho ou do escocês: parecem nos levar a uma conclusão verdadeira, mas de fato não passam de falácias...
Marcus Vinicius Dias é médico, mestre em Economia e gestor público.