Gabriel ChalitaDivulgação

Estou com uma vontade danada de providenciar uma condução e baixar lá pelos lados de Divinópolis e dizer à Adélia que gente como ela se celebra todo dia. Mas, amanhã, é especial. Dia 13 de dezembro é o dia em que Ana Correa e João do Prado sorriram de não caber no mundo de tanto alegria. Nasceu, assim, a poesia.
Mas antes de Adélia já havia poesia, dirão os que leem sem sentir. Esclareço, então. A poesia nasce toda vez que nasce gente capaz de explicar que, quando se vê uma pedra, se vê mais do que uma pedra. Foi isso que viu Drummond, quando se encantou com a menina que já era mulher, mas que, quando menina, começou a fazer poemas, depois que a mãe silenciou.
Orfandade é dor que dói a vida toda. E poesia é dor embelezada de palavras bonitas. Bonito é o cotidiano, é uma casa alaranjada brilhante que, constantemente, amanhece. Ah, Adélia, se eu for aí, vou querer, durante o cheiro do café e as mordiscadas no pão de queijo, saber melhor essa história da pintura da casa que fez seu pai.
Quando você diz que o que a memória ama fica eterno, eu quero dizer que amo o seu texto, que amo os seus ditos, que amo a simplicidade que mora no seu olhar observador das gentes e dos mundos. O sonho encheu a noite e, também, o dia, e, também, os livros que em suas páginas oferecem sentimentos nascidos de você.
Quero saber o que você sentia quando entrava nas salas de aula e ensinava seus alunos. Se você não se importar, faço uma sugestão, convide alguns deles para o nosso café comemorativo dos seus 86 anos. Peça a cada um que escolha uma dor que já cicatrizou no tempo e, então, poderemos cantar alguma canção de agradecimento. Bem baixinho para não atrapalhar o pensar. Se quiserem, podem dizer da professora Adélia e da sede de infinito e de permanência que você sempre teve.
Não sei se levo o bolo comigo na estrada ou se peço licença para fazer sabor na sua cozinha. Enquanto uso a batedeira e os ingredientes e as mãos cheias de vontade de te alimentar em gratidão, você pode dizer a vida que prossegue nascendo de você. E os seus filhos compreenderão que há milhões de filhos seus espalhados por aí crescendo com a sua poesia.
Já me estacionei mais de uma vez, a vida prega essas peças na gente. Já sentei com a precisão de quem não havia mais de levantar. E levantei lendo você. Sei de cor poemas e mais poemas seus. Se não for muita ocupação para um dia só, vou dizer. E você vai concordar que a felicidade é florescer no outro o amor que nasce da gente.
Seus poemas são pedaços de amor da inteira que você é. Seus poemas abrem as janelas da alma que moram na gente. Ah, a Janela, do seu poema, palavra linda. Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Sobre o café, quero mexer com o dedo mesmo. Quero brincar de sentir nos meus sentidos as quenturas que nos aquecem. E se o bule azul com descascado no bico do seu texto ainda estiver na cozinha, vou tirar fotografia com a minha alma para nunca esquecer das simplicidades. Porque a vida é mais tempo alegre do que triste.
Dezembro é mês de calor, é verão decidido. Por aqui. Em outras partes do mundo, as estações são outras. E, então, faz frio. Daqui a pouco, o menino Jesus nasce novamente, logo depois de você, Adélia. E, novamente, podemos ver, nas manjedouras que enfeitam o mundo afora, o belo da simplicidade.
Vou agora para as partes práticas. A condução e a surpresa. Preciso decidir a estrada. Indo ou não, eu estarei aí, Adélia, porque, há muito, você está em mim.
Feliz aniversário, Adélia Prado.
Obrigado, Ana Correa e João do Prado! A obra deu certo.