Foi na década de 1970 que, jovem repórter, fui procurado pelo lendário político paulista Hugo Borghi, que marcou época da Constituinte de 1946 até os anos 1960, conhecido pela criatividade, inteligência, na política como no mundo empresarial, onde também foi relevante. Trazia uma ideia de atrair uma bela soma de divisas, que o Brasil, na ocasião, precisava em função da primeira crise do petróleo, a custo zero, que seria a concessão de residência a quem investisse um milhão de dólares no Brasil, o que era uma bela soma para a época.
Mas o público-alvo eram milionários de Taiwan, sob ameaça na Guerra Fria, e África do Sul, com os movimentos para a tomada do poder pelos discriminados pela política de segregação social que ganhavam força.
Nacionalistas prestigiados no governo Geisel não deixaram a ideia prosperar. Agora, mais de meio século depois, muitos países adotam esse sistema para receber divisas, atrair moradores eventuais, que consomem, empregam, investem. Entre os mais atraentes aos brasileiros, estão o vizinho Uruguai e o sempre querido de todos Portugal. Este tem, hoje, cerca de 200 mil brasileiros residentes, sendo que 10% de alta renda.
A contar os de dupla nacionalidade, os brasileiros são os maiores compradores do mercado imobiliário nos últimos dez anos. Em janeiro, entra em vigor restrições como de que o investimento imobiliário não pode ser nas duas principais cidade do país, Lisboa e Porto, o que pode provocar uma queda de até 30% no faturamento do setor, que é tradicionalmente grande empregador.
O Bloco de Esquerda, uma espécie de PSOL-PSB de lá, lidera as restrições e ainda quer avançar. Ao verificar a questão, chamou a minha atenção o fato de a África do Sul ser o quarto país a fornecer postulantes do chamado “visa gold”, seguido do Vietnam. Hugo Borghi tinha mesmo visão.
O governo brasileiro modernizou, neste final de ano, a movimentação de moedas no país e a tributação para impostos de residentes com renda fora. Mas de maneira ainda muito tímida. O Brasil tem atrativos singulares, especialmente cidades como o Rio de Janeiro e as do Sul, sendo atraente para famílias pela rede de ensino bilíngue e oportunidades de negócios para os mais jovens.
É preciso avançar mais, para que possamos receber recursos, que naturalmente se fazem acompanhar de empreendimentos modernos. O governo teve a coragem de mexer no tabu que nos expunha ao ridículo de pedir a identificação de portadores de valores superiores a R$ 10 mil, que não pagam cinco diárias de um bom hotel, sem contar refeições, transporte, lazer, compras.
E pedir aos brasileiros, ao saírem, que declarassem valores superiores a R$ 10 mil, de um ridículo tal que nunca foi levado a sério nem pelo contribuinte nem pela suposta fiscalização nos aeroportos. Agora são dez mil dólares em qualquer situação. Curioso é que o cidadão pode comprar R$ 20 mil, mas tem de declarar o que já foi feito no ato da compra em estabelecimento credenciado, bancário ou não.
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.