Júlio Furtado, colunista do DIADivulgação

O tal do “novo normal” já está aí e nem todos perceberam. Alguns aspectos dessa “nova” ética das relações e do comportamento parecem brincadeira de tão teoricamente óbvias que sempre foram. Como soa a afirmação de que, no “novo normal”, devemos lavar as mãos com frequência? Que devemos ter cuidado ao espirrar ou tossir, tapando boca e nariz com o braço? Ou que devemos usar máscaras quando estamos em locais fechados com muita gente?
Para mim, todas soam como algo que já deveria fazer parte do “velho normal”. O comportamento do “novo normal” que me soa mais redundante, porém, é o de que devemos ser empáticos e acolhedores com todas as pessoas, pois todos nós estamos fragilizados, abalados e apreensivos em função do momento que estamos vivendo. Sim, vá lá... o momento atual está exigindo que sejamos mais acolhedores. Tudo bem, é verdade, mas acolher sempre foi atitude essencial ao humano civilizado (pelo menos sempre deveria ter sido!).
Mas como o nosso eixo sempre foi a escola e a Educação, a pergunta que não quer calar é “o que significa ser uma escola acolhedora nesse momento?”. Sim, porque a escola sempre teve o acolhimento como uma de suas principais características. O que deve haver, de novo, no jeito de acolher da escola (no fundo, no jeito de acolher de todos nós)? A novidade fica por conta de o ato de acolhimento precisar ser revestido de dois tipos de apoio: a ajuda para elaborarmos o significado desse momento em nossas vidas e para reunirmos forças para seguir em frente.
Elaborar o momento atual exige que tenhamos espaço para falar do que vivemos e do que sentimos, daí a necessidade de a escola reservar parte do horário para atividades de livre expressão como as rodas de conversa. Nesses momentos, a criança e o adolescente podem se ouvir e ouvir os outros, fechando lacunas em seu autoconhecimento.
Ajudar a seguir em frente tem a ver com apoiar e assessorar na elaboração de novos objetivos e planos. Tem a ver com ajudar o outro a construir os próximos degraus da própria escada. Esse é outro papel que a escola sempre teve, mas que nesse momento precisa ser focado e ampliado. A escola que acolhe, não só abre espaço para as dores e emoções de todos, mas ajuda a todos a caminhar com cada vez mais segurança, rumo a um futuro que vale à pena.
Júlio Furtado é professor e escritor