opina21janARTE O DIA

O centenário de nascimento de Leonel Brizola vai acontecer neste sábado, 22 de janeiro, e este artigo, publicado há 18 anos de sua morte, é uma defesa de seu legado, pois mesmo em suas declarações bem-humoradas, percebemos uma análise arguta de momentos cruciais para a História do Brasil. Posso dizer, sem modéstia que, mesmo carregado de afeto e saudades, constitui um registro de parte da memória política nacional.
Pincei uma história familiar que traduz a sua personalidade. Os Brizola vieram da Itália, se fixando em São Paulo em 1870, e depois no Rio Grande do Sul. O seu pai, o camponês José Brizola casou-se com Oniva de Moura e tiveram quatro filhos. O quinto filho, que se chamaria Itagiba, não sobreviveu. E Oniva, de novo grávida, anunciou que se o próximo filho “vingasse” herdaria o nome do natimorto, mesmo contra a vontade do marido.
No dia 22 de janeiro de 1922, em Cruzinha, zona rural de Carazinho, nasceu o menino que permaneceu sem nome diante do impasse, e durante dois anos todos o chamavam de Gurizinho. O pano de fundo desta saga familiar era dominado por guerras pela posse das fronteiras ao sul do país.
O RS vivia há quase um século uma sucessão de revoltas sangrentas: Guerra dos Farrapos (Revolução Farroupilha), em 1835, a Revolução Federalista, em 1893. Na época do seu nascimento, estourou a Revolução Estadual de 1923, um conflito entre o governo do RS, representado por Borges de Medeiros (há 20 anos no poder, recorrendo a fraudes) e os seus opositores liderados por Joaquim Francisco de Assis Brasil.
José Brizola apoiou os Maragatos e por isso foi assassinado antes do caçula completar dois anos. Na região, corria a fama do líder camponês Leonel Rocha. A brincadeira do menino “sem nome” era combater inimigos enquanto erguia sua espada de madeira, gritava: “Eu sou Leonel Rocha!” Todos passaram a chamá-lo de Leonel. A sua mãe foi convencida de que ele escolheu o próprio nome. Foi batizado, em 1924, e em sua certidão constava: Leonel Itagiba de Moura Brizola. Depois o Itagiba foi retirado por ele. A sua primeira vitória, somaram-se muitas outras.
Foi eleito deputado estadual pelo RS, em 1946 e reeleito. Foi prefeito de Porto Alegre e governador do RS, nos anos 1950, quando construiu 6,3 mil escolas. Ao liderar a Campanha da Legalidade, em 1961 – uma reação contra os militares que visavam a impedir a posse do vice-presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros -, elegeu-se em 1962, deputado federal pelo Estado da Guanabara.
Com o golpe militar de 1964, viveu15 anos exilado. Após a Anistia, foi eleito duas vezes governador do RJ e construiu 500 Centros Integrados de Educação Pública (Cieps), idealizado por Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer.
Meu avô Leonel Brizola foi elevado à categoria de Herói da Pátria, pelo governo brasileiro em 2014 e tem sido muito festejado pelo seu centenário – todas essas homenagens são simbólicas e recebo comovida – mas a maior delas seria priorizar a Educação, esse era o seu grande sonho.
Juliana Brizola é deputada estadual do PDT-RS