Isa Colli: O glamour das redes sociais - onde mora o perigo?
É esperado que as redes sociais estabeleçam controles para garantir que fique claro nas publicações se elas são baseadas em evidências científicas ou não. Outra atitude que considero fundamental é intensificar um trabalho de educação para o uso das redes
O filme Beleza Americana, de 1999, lançado bem antes do modismo das redes sociais, já trazia uma crítica contundente da “sociedade do espetáculo”. O longa mostrava personagens que não eram o que aparentavam ser. As máscaras sociais utilizadas por eles escondiam a triste realidade da vida de cada um.
Fazendo um paralelo com redes populares como o Instagram, o conceito “espetáculo” cai como uma luva. Coisas simples do dia a dia são constantemente transformadas em espetáculos: a ida ao cinema, um passeio na praia, o prato do jantar, a festa de formatura... e por aí vai. Qualquer saidinha pode virar um post. Há espaço para todo mundo: tanto pessoas comuns, como personalidades. Até aí tudo bem: ninguém é obrigado a postar nada e muito menos a seguir quem não está a fim.
O problema é quando certas “celebridades” passam a influenciar seus seguidores de maneira negativa. Um caso que virou notícia na grande imprensa em 2021 foi a prisão de Anna Carolina de Sousa Santos, no Rio de Janeiro. Influenciadora e empreendedora nas redes sociais, a jovem era integrante de uma quadrilha de estelionatárias na vida real. Era assim que Anna levava sua vida dupla. Ela e mais quatro amigas foram presas em flagrante por estelionato e organização criminosa.
Outro caso, de repercussão mundial, aconteceu com a blogueira australiana Belle Gibson. Nas redes, Belle contava a história de como, depois que lhe deram apenas quatro meses de vida, ela "curou" seu câncer cerebral inoperável por meio de uma alimentação saudável. Tudo não passava de uma grande mentira. A influenciadora nunca teve câncer, mas convenceu muitas pessoas que realmente tiveram a doença a seguir seus conselhos irresponsáveis.
São inúmeros os exemplos de mentiras e “notícias falsas" ou “fake news” disseminadas neste mundo virtual das aparências. A preocupação aumenta quando essa rede do mal assedia crianças, adolescentes e jovens. Dificilmente eles têm a capacidade de diferenciar claramente o que é real do que é montado apenas para um clique. Aí surge um problema.
O suicídio no ano passado do garoto Lucas, de 16 anos, filho da cantora de forró Walkyria Santos, acendeu um alerta e reforçou a necessidade de se combater discursos de ódio e violência nas redes. Ele teria atentado contra a própria vida após publicar um vídeo no TikTok, em que aparece em uma brincadeira afetiva com um amigo. A família atribui o ato a uma enxurrada de comentários motivados por homofobia. Walkyria agora encabeça a campanha pela aprovação de uma lei que busca criminalizar e punir quem faz comentários de ódio na internet. A lei carregará o nome de Lucas.
Também é esperado que as redes sociais estabeleçam controles para garantir que fique claro nas publicações se elas são baseadas em evidências científicas ou não. Outra atitude que considero fundamental é intensificar um trabalho de educação para o uso das redes.
E, por fim, os pais ou responsáveis devem ficar atentos, monitorar o que a garotada curte e limitar o tempo de uso. Muitas vezes, o jovem busca compensar com as curtidas dos seguidores da internet o afeto que lhe falta dentro de casa.
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