Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública divulgação

A extraordinária Elza Soares, que nos deixou recentemente, escreveu seu nome na história da MPB com muitas obras, dentre elas “A Carne”, um verdadeiro grito social que no seu refrão “A carne mais barata do mercado é a carne negra” retrata a realidade das pessoas negras no Brasil e até no mundo. O racismo estrutural é um fato, no qual todos os negros são historicamente vítimas, amargando a desigualdade ainda muito longe de ser reparada.
Não é coincidência os negros representarem 78% das pessoas mortas por armas de fogo no Brasil, segundo estudo do Instituto Sou da Paz. E isso atinge, inclusive os policiais negros que são as maiores vítimas de violência entre os agentes de segurança pública, segundo dados do Anuário de Segurança Pública. De acorco com o levantamento, em 2020, o número de agentes de segurança mortos no país chegou a 194, 22% a mais do que o ano anterior. Desse total, 155 eram policiais militares e 62,7% dos policiais assassinados eram negros.
Alguns episódios recentes demonstram na prática o que os números apontam. O congolês Moïse foi assassinado a pancadas, numa agressão inconsequente. O repositor Durval Teófilo foi alvejado na porta do seu condomínio, sem qualquer explicação. O sargento da Marinha afirmou ter atirado por achar que ia ser assaltado. Mas porque acharia isso se não pelo julgamento da cor de Durval? Como militar ele deveria saber que uma arma só pode ser utilizada para legítima defesa, não por qualquer “achismo” que tirou a vida de um trabalhador e chefe de família.
Enfim, esses são alguns dos muitos exemplos que sustentam o altíssimo índice de morte de pessoas negras no país. Há um racismo enraizado, fruto de uma herança da escravatura e da falta de investimento em Educação. Pagamos o preço de toda essa omissão até hoje.
Tanto as gerações mais antigas quanto as atuais pouco se aprofundam na História em busca de entender a tamanha desigualdade que o negro viveu e ainda vive neste país, além da falta de políticas públicas para proteger suas vidas. Nos acostumamos a ver os melhores lugares das grandes capitais sendo ocupados por pessoas brancas, restando à esmagadora maioria dos negros e pobres as comunidades e periferias onde há maior violência, falta de assistência social etc. Nestes locais, mesmo quem tem pele branca é tratado com preconceito de serem favelados, aonde mais uma vez a vida não tem valor.
Infelizmente, a cor da pele ainda nos diferencia. Isso é fato e a negra, como cantou Elza Soares, ainda é a mais barata do mercado.

Marcos Espínola é advogado criminalista e especialista em segurança pública