Isa Colli é jornalista e escritora Divulgação

Sou escritora e não passo um dia na vida sem que venha uma história em minha cabeça para inspirar um livro. Recentemente, no entanto, uma história real e cruel não saiu do meu pensamento. É um caso que ganhou destaque na imprensa aqui na Bélgica, país onde moro desde 2014. Uma emissora de TV denunciou o caso de uma brasileira que conheceu um belga pela internet, se casou, e foi morar em Namur, no sul do país. Ele era agressivo, o que fez com que a moça pedisse o divórcio. Agora, ela vive sob constante ameaça. A polícia diz que não pode fazer nada.

Infelizmente, essa é a realidade de muitas mulheres imigrantes. Chegam na Europa com o sonho de encontrar um amor ou ser bem sucedida profissionalmente e acabam em meio a um pesadelo. Imigração não é conto de fadas. Eu sempre digo: na hora de decidir buscar uma vida melhor em outro país, é preciso agir com sabedoria, sem romantizar a situação.

Estima-se que 22% das mulheres já sofreram violência física e/ou sexual e 43% sofreram violência psicológica na Europa, segundo dados de uma pesquisa da Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA). Na maioria dos países europeus, existem leis que abordam a violência contra uma pessoa por causa do seu gênero ou orientação sexual, mas não há uma legislação comum. O Parlamento Europeu tem cobrado regras mais rígidas neste assunto. Em setembro do ano passado, os eurodeputados requereram à Comissão Europeia que torne crime a violência de gênero, ao lado de terrorismo, tráfico e cibercrime.

Os números mundiais preocupam: a cada ano, 50 mil mulheres são assassinadas no planeta, vítimas de violência doméstica. Isso representa aproximadamente uma morte a cada dez minutos de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU). E olha que triste: os maridos e ex-companheiros são os principais assassinos e respondem por um em cada três mortes. Nesta ciranda macabra, há muitos relatos de mulheres que são obrigadas a se prostituir por seus companheiros.

Esses dados mostram que é justamente no núcleo no qual as mulheres deveriam ser mais protegidas onde acabam sofrendo as violações. E um fato importante que serve de alerta é que a pandemia provocou o aumento da violência entre parceiros íntimos - seja física, verbal ou por meio das redes sociais.

Eu entendo o drama dessas mulheres e sempre me coloco à disposição quando me pedem ajuda. Eu as oriento a recorrer às representações consulares. Há também as ONGs de proteção e psicólogos brasileiros que prestam serviço a essas pessoas no exterior gratuitamente. A denúncia do agressor também é fundamental para quebrar o ciclo de assédio e violência.

Às brasileiras que alimentam o sonho de viver em outro país, o que posso dizer é que pesquisem muito bem antes de tomar qualquer decisão. Que essas histórias e dramas fiquem apenas nas páginas dos livros de ficção.
Isa Colli é jornalista e escritora