Julio FurtadoDivulgação

As escolas voltaram às aulas 100% presenciais e já podemos comprovar o que imaginávamos: as lacunas de aprendizagem provocadas pela pandemia precisam ser preenchidas e, para isso, a escola precisa se organizar diferentemente do que era no período pré pandêmico. A principal demanda de reorganização da escola diz respeito à necessidade de recomposição das aprendizagens essenciais que possibilitem ao aluno seguir em frente, aprendendo mais e melhor.
Diante desse desafio, cabe revisitarmos uma forma de organização escolar pouco adotada que é a divisão por ciclos ao invés de anos. A principal justificativa para essa forma de organização escolar é o fato de que crianças e pré-adolescentes possuem tempos diferentes de aprendizagem e a crença da escola de que dezenas de alunos aprendem ao mesmo tempo porque há um professor dando a mesma aula para todos é, no mínimo, ingênua.
As escolas estão recebendo vários alunos que não sabem ler aos 8 anos de idade pelo fato de os pais terem achado melhor que ficassem em casa sem estudar em 2020 e 2021. Vários outros alunos, embora tenham tentado estudar nesse período, não conseguiram. O resultado é um grande número de crianças com defasagens de aprendizagem que se enquadradas na lógica da organização anual da escola, retornarão para, no mínimo, duas séries a menos da série em que deveriam estar em função de suas
idades. A organização em ciclos seria uma possibilidade interessante de não aumentarmos a desproporção idade-série.
A escola seriada anual obriga o aluno a aprender uma grande quantidade de conteúdos em duzentos dias de aula, o que angustia muitos professores e quase todos os alunos. O sistema de ciclos amplia esse tempo de aprendizagem. Ao invés de um ano, o aluno passa a ter dois ou três anos para aprender, somente sendo ou não aprovado, ao final do ciclo. Mais tempo para preenchermos as lacunas de aprendizagem, sem que isso signifique um veredicto de reprovação para o aluno.
Sem a arma da reprovação anual, muitos professores atacam o sistema de ciclos e o acusam de produzir alunos sem base. Duas questões, porém, precisam ser levantadas para que analisemos a situação com mais discernimento: como não produzir alunos sem base, mesmo no sistema seriado? Como construir aulas mais participativas e atraentes de forma que não precisemos utilizar a avaliação como uma ameaça?
Júlio Furtado é professor e escritor.