Cecília Olliveira é jornalista e diretora do Instituto Fogo CruzadoDivulgação
O Instituto Fogo Cruzado mapeou 108 tiroteios próximo aos ramais dos trens da Supervia em 2021, e parte relevante deles aconteceu na Baixada Fluminense. O ano virou e o problema seguiu. Ainda não completamos o primeiro semestre de 2022, e todos os ramais que passam pela Baixada já foram afetados por algum tiroteio pelo menos uma vez.
Um tiroteio gera uma cadeia de consequências ruins. No caso do trem, o trabalhador, além de correr risco de ser baleado, se atrasa quando o problema afeta o ramal. O patrão que não entende o motivo do atraso faz ameaças de demissão. O aluno que não chega à escola não consegue dar sequência nos estudos. O desempregado que perde uma entrevista não alcança o objetivo do emprego.
A violência armada na Baixada Fluminense está perto dos ramais dos trens e também nas rodovias, nas ruas e nas favelas. A região teve mais de uma pessoa baleada por dia, em média, nos quatro primeiros meses de 2022. Desde 2016, quando o Fogo Cruzado começou a mapear tiroteios na Região Metropolitana do Rio, a Baixada teve 2.315 pessoas mortas a tiros. É uma morte por dia.
O sonho do trabalhador fluminense é ir para o trabalho e voltar para a casa sem risco de ser mais uma vítima da violência armada. É um sonho singelo, mas que para ser realizado depende da boa vontade do poder público de construir um plano de segurança eficiente, que dure para além da corrida eleitoral. Enquanto isso, o Fogo Cruzado segue alertando a população dos tiroteios.
Cecília Olliveira é jornalista e diretora do Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada em cerca de 40 cidades das regiões metropolitanas do Rio, Recife e, em breve, em Salvador.
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