Isa Colli é escritora e jornalista Divulgação

Mais um ataque em escola nos deixou perplexos na semana passada. Um adolescente esfaqueou três colegas em um colégio municipal na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio. Graças à ação de um professor, que conseguiu intervir com uma cadeira e imobilizar o rapaz, o caso não terminou em tragédia. O agressor, de 14 anos, atacou duas colegas de classe pelas costas e um outro aluno da mesma turma que tentou defender uma delas. O jovem também acabou se ferindo. Todos foram hospitalizados, mas logo receberam alta.

O agressor foi levado para uma unidade psiquiátrica por apresentar um quadro de surto psicótico e deverá responder por fato análogo ao crime de tentativa de homicídio. A mãe do garoto informou na delegacia que o filho apresentava comportamento agressivo nos últimos tempos, sendo acompanhado por psicólogo e psiquiatra.

Mais uma vez nos vemos diante de um ataque que pode ter sido motivado por bullying, que são manifestações de violência física ou psicológica contra crianças e adolescentes.
Há uma ano, um rapaz matou a facadas três crianças e dois adultos em uma escola de Saudades, Santa Catarina. Em 2019, dois jovens mataram oito pessoas a tiros em escola de Suzano, próximo a São Paulo. Em 2011, um ataque bárbaro em Realengo, Rio de Janeiro, deixou 12 mortos. O assassino era um ex-aluno que teria sofrido bullying uma década antes.
Um estudo nos EUA, divulgado à época do Massacre de Realengo, revelou que o bullying motivou 87% de 66 ataques em escolas no mundo, entre 1955 e 2011. Notem que o tempo passa e o problema permanece atual.

Por que crianças e jovens cometem bullying? Existem falhas e omissões que levam a esse tipo de comportamento? As perguntas são muitas e é preciso enfrentar o debate, mesmo que se toque em feridas que não queremos mexer.

Os alvos preferidos são alunos que fazem parte de minorias. A discriminação, em geral, acontece em decorrência de orientação sexual, crença religiosa ou alguma característica física ou comportamental, como o excesso de timidez.

É preciso estar atento para perceber o bullying na escola porque muitas vezes o agressor age quando não tem ninguém por perto e a vítima pode se isolar. É possível identificá-lo observando alguns sinais e mudanças no comportamento do aluno, como tristeza e irritabilidade; medo de ir à escola; isolamento; perda de apetite e insônia.

Quando o problema é identificado, família e escola têm de atuar em conjunto para dar suporte emocional à vítima. É importante também conversar com o agressor, que pode estar agindo de maneira violenta para sinalizar algum problema pessoal que esteja vivendo, às vezes até de violência familiar.

O bullying não pode ser considerado algo sem relevância. Todo caso deve ser levado a sério porque traz inúmeras consequências negativas para a vítima e também para o agressor. Por fim, defendo que seja feito um trabalho preventivo com palestras e debates para conscientizar toda comunidade escolar.
Isa Colli é escritora e jornalista