Paulo Baía, sociólogo e cientista político da UFRJDivulgação

A eleição para governador e senador do Estado do Rio passará por um rearranjo no fim de maio e início de junho. Por quê? Estamos, nesse momento, com os olhos muito focados na disputa entre Lula e Bolsonaro. Temos uma situação Bolsonaro x Lula no Estado do Rio em que podemos dizer que há empate técnico, ou em algumas pesquisas, em empate numérico.
E o fato é que a campanha de Bolsonaro tem muita recepção no Rio e muita rejeição. Exatamente como acontece com a de Lula, tem muita aceitação e muita rejeição. Então, você tem aí uma similitude de aceitação e rejeição dos dois principais candidatos. Isso reflete nas campanhas para o governo do estado.
Temos aqui o governador Cláudio Castro, que quase ninguém conhece e não tem rejeição, mas não tem aceitação. Temos o ex-prefeito de Niterói Rodrigo Neves, que não tem aceitação, mas também não tem rejeição. O advogado Felipe Santa Cruz, que também não tem um nível de visibilidade grande, mas também não tem rejeição. E, Marcelo Freixo que tem enorme visibilidade e enorme rejeição. Esses são os quatro que estão colocados no tabuleiro para o início da partida. Há outras candidaturas menores, que não aparentam, no momento, competitividade.
O fato é que todas as pesquisas indicam posição privilegiada de Cláudio Castro e de Freixo. Uma posição privilegiada, mas uma posição sazonal na medida em que a campanha de presidente vai impactar muito na escolha do governador. E aí é que vem a preocupação tanto de Lula quanto de Bolsonaro. Eles precisam de nomes que facilitem o rompimento das bolhas de rejeição que têm. Castro não ajuda muito Bolsonaro nesse sentido e Freixo, também não ajuda muito Lula.
A campanha de Cláudio Castro é uma campanha fatiada. A estratégia tem sido ser eclético, ele vai declarar voto em Bolsonaro mas ao mesmo tempo não fará força para que seus aliados apoiem o presidente. Então teremos grupos grandes da campanha de Cláudio Castro apoiando Lula, você terá outros, um pouco menores, apoiando Ciro Gomes. Alguns menores apoiando Simone Tebet, se esse for o quadro que se desenhar como efetivo para a competição.
Quais são os movimentos que vamos identificar com mais clareza até o fim de junho? Eu já havia chamado atenção para a posição do ex-governador Anthony Garotinho. Ele tem um potencial, um ativo eleitoral importante no estado e pode se deslocar para candidatura ao governo. Uma candidatura que desestabilize essa coisa meio monótona de Castro e Freixo. Então, eu sempre digo que nós não podemos subestimar uma candidatura de Anthony Garotinho.
Garotinho apresentou seu nome, formalmente, à direção nacional do União para que comecem as tratativas de escolha para uma candidatura ao estado. Essas tratativas vão acontecer até o fim de junho, e eu creio que em paralelo a isso ele comece intensa atividade de pré-candidato. O outro passo que começo a identificar é que o Partido dos Trabalhadores, que nunca esteve muito à vontade com a candidatura de Marcelo Freixo, embora tenha o apoio de Lula, uma parte da campanha do PT está com Cláudio Castro.
Mas com o lançamento e a consolidação da candidatura do deputado André Ceciliano ao Senado, que é competitivo, teremos uma disputa pela única vaga entre o senador Romário e Ceciliano. Outros nomes podem até entrar no jogo, mas terão dificuldades de disputar.
A campanha de Lula percebe o avanço de Bolsonaro no estado, junto com o estacionamento do petista no Rio. E a necessidade de tentar ações de desfazimento do sentimento e da estrutura anti-PT e anti-Lula. Da mesma maneira que Jair Bolsonaro tem que fazer o mesmo no sentimento e na estrutura anti-bolsonarismo.
O PT caminha para uma alternativa que me parece que lhe é mais favorável, nesta disputa pelo espaço dos votos não definidos e do voto contra Lula para tentar reverter o voto anti-petista, anti-Lula, tendo como canal um candidato a governador. E começa a se ter uma percepção de que esta candidatura é a de Felipe Santa Cruz. Não pelo seu potencial eleitoral, mas pelas mesmas características que tornam Cláudio Castro e Rodrigo Neves competitivos. Ninguém conhece Felipe Santa Cruz e ao mesmo tempo não tem rejeição.
Santa Cruz tem um ativo, que é o protagonismo eleitoral do prefeito Eduardo Paes, que muito é bem avaliado na cidade do Rio, mas não só isso. A figura de liderança de Paes extrapola os limites da cidade. Se espalha pela Baixada Fluminense e por vários municípios do estado. Enfim, Eduardo Paes é um grande eleitor e ter ele na liderança, comandando uma campanha para o governo, tendo Felipe Santa Cruz como candidato em parceria com André Ceciliano, para o Senado é uma chapa competitiva para tentar chegar nos dois primeiros lugares. E vai ser uma chapa que vai competir com Cláudio Castro essa primazia.
Num certo sentido desloca Freixo para um espaço muito restrito e ao mesmo tempo faz pressão em Rodrigo Neves, que vindo candidato ficará também restrito a um pequeno espaço como Marcelo Freixo.
Então com esse desenho, teremos três candidaturas competitivas para duas vagas no primeiro turno. O governador Cláudio Castro, o ex-governador Garotinho e Felipe Santa Cruz, se a aliança com o PT for realizada e surgir a dobradinha Felipe Santa Cruz/André Ceciliano com o apoio de Lula. Um outro dado para isso é que tanto a campanha de Garotinho como a de Cláudio Castro, que não serão diretamente vinculadas a Lula, tem em seu escopo apoio a Lula e apoio a Bolsonaro. E a campanha de Santa Cruz será mais de apoio exclusivo a Lula.
Paulo Baía é sociólogo, cientista político e professor da UFRJ