Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação

A escolha do candidato a presidente nesta eleição acredito ser singular em nossa história. Parte do eleitor de cada um dos principais nomes vota por horror ao adversário, mesmo sem apreciar o escolhido. E tem também o eleitor que tem vergonha de revelar que pode votar num condenado com sentenças anuladas de maneira estranha, apesar das evidências e provas, ou no tosco mal-educado, mas que comando um bom governo em meio à tempestade mundial de pandemia e guerra.
Essa vergonha se justifica, pois um país que está entre as 12 maiores economias do mundo, e teve estadistas reconhecidos através de 200 anos de história, deve ter vergonha de não construir um grupo de políticos de bom nível, de diferentes tendências, para uma escolha aceitável.
Não se deve tapar o sol com a peneira, lembrando Aureliano Chaves. Tivemos pela esquerda, na mesma linha praticamente de Lula, dois mandatos de FHC, hoje cabo eleitoral do PT, mas não se pode negar a postura pessoal e pública do ex-presidente tucano. Pela direita, então, há inúmeros exemplos, como os militares e Fernando Collor. E o rico centro-democrático, com Getúlio, Dutra, JK, Sarney, Itamar Franco.
Hoje até os nanicos candidatos à terceira via podem ser dados como relevantes, já que quase todos são melhores do que os dois principais, na avaliação de alguns grupos liberais-conservadores. Ciro Gomes, se tivesse a postura mais centrista, de sua origem no PDS do presidente Figueiredo em que começou sua vida pública em 1982, poderia ter crescido. É o mais preparado, mas pouco confiável e um pouco utópico. Fala
em taxar fortunas, o que não deu certo em nenhum lugar do mundo. E governos de esquerda, como os socialistas franceses, implantaram e recuaram.
O acirramento das campanhas, com uma radicalização que não atende à normalidade democrática, nem os padrões da ação de políticos que divergem sem ódios e questões pessoais, nos leva a temer realmente pelo futuro. O país pode se transformar em ingovernável, caso, em meio à crise grave, a baderna tomar conta das ruas, sob a omissão ou até disfarçado incentivo de governantes pouco usuais no uso legítimo da
autoridade.
Precisamos de paz para a ordem e o progresso, para o que estamos preparados, com estoque de projetos que por si só garantem robusto crescimento no curto e médio prazos. As torcidas dos candidatos rivalizam com aquelas que ameaçam a segurança e a ordem nos nossos estádios pela violência e a intolerância.
Há dias, um ex-ministro, em São Paulo, candidato a deputado teve seu carro apedrejado por militantes que protestavam contra palestra que fazia numa faculdade. Intolerância e violência com divulgação incompleta e, quando não, mentirosa. Foi acusado de atropelar um cidadão, que nada sofreu, quando o ameaçado e agredido foi ele.

Dá vergonha do voto e deste quadro deprimente para uma potência da qual nos orgulhamos pelos resultados em comparação com países de mais poder econômico e tradição. Não se trata de opinião, mas de um fato.
Aristóteles Drummond é jornalista