É triste, mas real: estima-se que ainda existam quase 800 milhões de adultos no mundo que não sabem ler, escrever ou contar, e aproximadamente 250 milhões de crianças consideradas analfabetas funcionais, ou seja, que não conseguem interpretar os textos
Setembro é um mês importante para se refletir sobre os caminhos da Educação na primeira infância, uma que vez temos uma data mundial relacionada ao tema, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU): o Dia Mundial da Alfabetização, celebrado ontem, 8 de setembro.
Após dois anos de pandemia, já é possível avaliar com mais clareza os reflexos do isolamento social provocados na vida escolar da garotada. E é certo que o analfabetismo, que já era uma ferida aberta, se agravou bastante neste período.
Vou mostrar primeiro alguns números gerais para depois chegar aos dados do período pandêmico. É triste, mas real: estima-se que ainda existam quase 800 milhões de adultos no mundo que não sabem ler, escrever ou contar, e aproximadamente 250 milhões de crianças consideradas analfabetas funcionais, ou seja, que não conseguem interpretar os textos.
O número total de pessoas alfabetizadas no mundo é alto: 84% da população. Há, no entanto, um abismo separando os melhores e piores do ranking. Por exemplo: enquanto a Alemanha tem 99% do seu povo alfabetizado, o Afeganistão tem apenas 38,2%. Outro dado que impressiona: em 2018, 260 milhões de crianças e adolescentes não estavam matriculadas nas escolas, segundo a Unesco.
Em nosso país, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, havia 11,3 milhões de pessoas analfabetas com 15 anos ou mais de idade. E 1,429 milhão de brasileiros, entre 6 e 7 anos, não sabia ler ou escrever, o equivalente a 25,1% das crianças nessa faixa etária. Em 2021, esse número pulou para 2,367 milhões (40,8% das crianças). O aumento é de 66% em comparação aos números de 2019, segundo um estudo feito pela ONG Todos Pela Educação.
A explicação para a queda na alfabetização foi a pandemia de covid-19, que causou a suspensão de aulas presenciais e obrigou as redes de ensino a se adaptarem nos últimos dois anos. Esse impacto, segundo alguns educadores que conversei, pode levar de três a cinco anos para ser superado. E o mais urgente neste momento é buscar soluções para o déficit de aprendizagem que se aprofundou, aumentando ainda mais as de desigualdades sociais, já que os mais prejudicados foram os alunos de escolas públicas.
Para alguns especialistas, será preciso repensar o currículo, avaliando a possibilidade de flexibiliza-lo, momentaneamente, e investir na atualização dos professores e gestores. Também é urgente fazer a chamada ‘busca ativa’, para trazer de volta os meninos e meninas que ficaram em casa por conta da pandemia e agora resistem em voltar.
Nosso esforço deve ser no sentido de retomar a construção de uma Educação para todos e todas. E, como escritora, não poderia deixar de incluir o desejo de que os governos coloquem em prática políticas que estimulem o prazer pela leitura, possibilitando o acesso democrático aos livros.
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