Mariana GinoDivulgação

Ao longo dos últimos 15 anos, a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa vem chamando a atenção da sociedade civil e das autoridades públicas para os riscos antidemocráticos diante do crescimento dos casos de intolerância religiosa em nossa sociedade. Como bem pontua o professor doutor Babalawô Ivanir dos Santos, em seu livro Marchar Não é Caminha, “conflitos e disputas” religiosos nunca deixaram de fazer parte das transformações sociais.

Sim, nunca deixaram porque não existe uma unicidade sobre religiões e religiosidades seja aqui no Brasil ou em qualquer outra parte do mundo. Entretanto, no Brasil os conflitos religiosos, ou melhor, a intolerância religiosa, estão de mãos dadas com o racismo e todas as formas de preconceitos. E nesta simbiose, a intolerância religiosa vai se camuflando cotidianamente em opinião pessoal dentro da nossa sociedade.

Assim, podemos compreender que a História da formação social, política e econômica do Brasil, a intolerância religiosa, assim como o racismo, faz e ainda faz parte das relações sociais cotidianas. Sem bandeiras e/ou partidárias a Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa, surgiu no ano de 2008, em reação aos episódios de intolerância religiosa que aconteceram no Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Na ocasião, adeptos das religiões de matrizes africanas foram expulsos pelo traficante Fernandinho Guarabu, que na época comandava o tráfico local, e impedidos de usar suas vestes religiosas e seus fios de conta.

Destarte, após diversas manifestações públicas, em defesa das liberdades religiosas e dos direitos de cultos pessoas ligadas as diversas confissões religiosas, defensores das diversidades e membros de grupos sociais passaram a se unir e reunir, anualmente, para em prol da tolerância, da equidade e da pluralidade para que juntos passaram a realizar o maior evento inter-religioso do Brasil. Para além das caminhadas, os religiosos e religiosas também criaram a Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR), única no mundo, composta por membros da sociedade civil, Ministério Público, Polícia Civil, OAB e integrantes de diversos grupos religiosos, que passou a ser um importante instrumento de acolhimentos e denúncias dos crimes de intolerância religiosa que vem acontecendo continuamente em nossa sociedade.

O evento, que tradicionalmente é realizado no terceiro domingo do mês de setembro, no Posto 6 da Orla de Copacabana, já se consolidou no Brasil, e principalmente na cidade do Rio de Janeiro, como uma das ações mais pontuais em defesa da liberdade religiosa e o Estado laico. Um evento que além de projetar luz e reflexões para a promoção de uma sociedade mais humana, plural e diversa também luta em prol do fortalecimento das bases democráticas que ainda fazem parte da nossa sociedade. Eu tenho Fé, eu respeito a sua e você respeita a minha.
Mariana Gino é professora e coordenadora pedagógica do CEAP Centro de Articulação de Populações Marginalizadas