André Naves é defensor público federal divulgação
Escrita nos fins do século XVI, essa obra, além de tantas outras mensagens, constitui um libelo a favor da inclusão. Ricardo III, "deformado, não-finalizado", de acordo com suas próprias palavras, é a marca de que pessoas com deficiência são, antes de tudo, pessoas, com todas as dores e delícias existentes na aventura humana.
O poema teatral shakespeareano é uma mostra de como a Cultura põe a desnudo a essência individual e coletiva, trazendo ensinamentos, antes restritos aos ambientes da técnica, a todas as pessoas de maneira indistinta. Podemos resumir dizendo que a Cultura é uma das mais importantes ferramentas de inclusão, exatamente pelo seu papel de fazer ressoar mensagens que, apesar de óbvias, teimam em ficar escamoteadas pelos mais influentes atores sociais.
Nesse sentido, como forma de democratizar o acesso aos principais aparelhos culturais e, assim, impulsionar a inclusão social, a monarquia britânica, chefiada pela então Rainha Elizabeth II, mantém os museus públicos da Grã-Bretanha e promove livre acessibilidade a todos os interessados. A difusão democrática da Cultura era tão importante para a rainha que em sua visita ao Brasil, em 1968, ela fez questão de inaugurar o Masp. Na mesma viagem, ela apertou a mão do nosso grande rei, Pelé, e o inspirou na luta incansável pela infância: somente a Educação, coordenada com Esporte, Cultura e Proteção Social, pode eliminar as barreiras estruturais do preconceito e da exclusão.
Com a morte de Elizabeth II, seu filho assumiu o título de Rei Charles III e promete continuar na promoção dos valores da inclusão, da Cultura e da infância. No entanto, sabe que para continuar nessa busca, um novo valor deve ser almejado: a sustentabilidade ambiental.
Ainda em suas atividades como príncipe, Charles já vinha indicando que o Meio Ambiente será um dos temas fundamentais de seu reinado. Ora, para que uma sociedade seja inclusiva, ela deve ser ambientalmente sustentável. É que a chamada emergência climática, causada pela desenfreada exploração humana do patrimônio natural, potencializa as barreiras já existentes, além de determinar outras tantas.
Pessoas marginalizadas, excluídas ou precariamente incluídas normalmente moram nas áreas mais vulneráveis a intempéries e eventos climáticos extremos. Da mesma maneira, as consequências da destruição da natureza acarretam maiores problemas de saúde, além de enfraquecer a atividade econômica. Ora, com a saúde debilitada, não se consegue inclusão educacional, nem no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, com depressão econômica, vagas de trabalho são eliminadas e aumentam o desemprego, o subemprego e a carestia.
A piora da vida individual majora as pressões coletivas e sociais por soluções imediatas. É por isso que o discurso de ódio, a violência, a prática sectária, o autoritarismo e o populismo crescem em épocas de crise e carestia. As pressões populistas por parte da população pioram o ambiente de negócios e, como consequência, deprimem ainda mais a atividade econômica. E essa recessão econômica, ao destruir os pilares da proteção social, levanta novos obstáculos à inclusão educacional, dificultando, ainda mais, a liberdade social e a igualdade de oportunidades.
A carestia potencializada pelo populismo e pela exclusão acaba por determinar novas atitudes populistas e maiores barreiras exclusivistas: os preconceitos e os ódios bebem na fonte da crise econômico-social, ao mesmo tempo em que são realimentados por ela. A monarquia é um símbolo. O novo Rei Charles III tem plena consciência disso, ao mesmo tempo em que sabe que só com a reversão da atual maneira de exploração ambiental será possível a proteção à Infância, que se materializa com Educação, Esporte, Cultura e proteção social, determinando a construção de uma sociedade Inclusiva e, acima de tudo, justa.
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