Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação

Tendo tido a sorte de estar em almoço no Rio na mesma mesa que Antônio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e do Sebrae-RJ, levou-me a reler um dos excelentes livros de seu pai, meu saudoso amigo Octavio Mello Alvarenga, o “Rosário de Minas”, no qual conta da vida mineira desde os anos 1920.
O autor comandou a SNA e, entre outras conquistas, obteve dois prêmios Walmap, criado nos primórdios dos serviços prestados à cultura brasileira por José Luiz de Magalhães Lins, que para tal convocou outro mineiro, o acadêmico Antonio Olinto. Ao lado dos personagens de dimensão nacional, como JK, Alkmin, Castelo Branco, Capanema, Valadares e outros, narra a desventura de influente chefe político da Zona da Mata, da emblemática Ponte Nova, coronel Cantidio Drumond, que veio a ser seu sogro.
O poderoso dono dos votos naquela área da Zona da Mata, prefeito da cidade, indo visitar o secretário do Interior, Gustavo Capanema, irritou-se por esperar duas horas para ser atendido e, aos altos brados, protestou dizendo que era uma indignidade fazerem aquilo com ele. Capanema, diante do escândalo, foi buscar o já vocacionado udenista, temperamental, e o recebeu com todas as honras.
Cantidio voltou satisfeito com o resultado de seus protestos em defesa de seu prestígio. Semanas depois, foi
surpreendido por decreto do governador Valadares, nomeando para prefeito de Ponte Nova, um jovem discípulo do prefeito, seu parente inclusive. Teria começado aí as divergências comportamentais entre os que vieram a formar a UDN, com Cantidio, e os que foram para o PSD, como Capanema.
Menos presente no folclore mineiro, Capanema, no entanto, era um mestre nas artes da política com inteligência e habilidade. Questionado por Getúlio pela presença de muitos comunistas no seu ministério, cujo gabinete era chefiado por Carlos Drummond de Andrade, respondeu que realmente havia recrutado notáveis intelectuais marxistas, “pois, estando exercendo funções no governo, não fariam oposição ao
presidente”.
Quando do Estado Novo, o mineiro Odilon Braga, que também veio a ser da UDN, renunciou ao Ministério da Agricultura “por ser um democrata”. Getúlio, surpreendido, consultou seu ministro da Justiça, o admirável Francisco Campos, sobre como fazer a substituição. E ouviu do genial mineiro, que tinha o apelido de “Chico
Ciência”, que deveria ser o paulista Fernando Costa.
O ditador parou para pensar e perguntou se não era o mesmo líder ruralista que o criticava tanto. Campos respondeu que era ele mesmo, que, nomeado, deixaria de falar mal do governo e calaria a boca dos paulistas ainda ressentidos com 1932.
Uma pena esse apagão político de mineiros na alta política, embora o governador Romeu Zema, não sendo político, vem se saindo bem no diálogo com todos e começa a voltar às lides o lúcido Aécio Neves, filho do admirável Aécio Cunha e neto do inesquecível Tancredo Neves, embora não esteja presente com relevância merecida em Brasília.
O presidente Figueiredo tinha vice e cinco ministros mineiros. Tantos emblemáticos sábios transitam nas páginas do “Rosário...”, de Octavio Alvarenga, como Francisco Negrão de Lima, Ovídio de Abreu, Israel Pinheiro. E nós vivendo este momento político em que estas qualidades são desconhecidas e não exercidas como faria bem à democracia que todos dizem servir, mas sobre o que existem controvérsias envolvendo a todos.
Aristóteles Drummond é jornalista