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Sempre fui contra o instituto da reeleição. Tenho para mim que um mandato único de cinco anos serve melhor aos interesses republicanos. Já escrevi algumas vezes sobre isso e reitero que, quando o Lula, no final do segundo governo, não aceitou que fosse
aprovada uma emenda constitucional para permitir um terceiro mandato - que seria fácil para ele com 84% de aprovação -, eu percebi que estávamos na presença de um estadista.
Agora, esse desespero do presidente Bolsonaro em se reeleger só confirma a minha hipótese. É claro que é uma situação sui generis, afinal, o atual presidente e seus filhos devem, em seguida às eleições, ser responsabilizados por uma série de crimes. E
correm o sério risco de uma condenação, e até mesmo de prisão. Daí a reeleição virou uma tábua de salvação.
Ocorre que não é natural o que tem feito o atual presidente da República. É vexame atrás de vexame. O papel ridículo a que tem se sujeitado não só o desmoraliza ainda mais, como submete o Brasil a uma situação bizarra. O que ele faz para acabar com a imagem do país é algo que impressiona. Mesmo os que são contra a monarquia naturalmente respeitam a figura da Rainha Mãe, com seus 70 anos de reinado e inquestionável simpatia.
O erro de cálculo do presidente e seus assessores, ao permitirem essa viagem a Londres, surpreende pela infantilidade. Bolsonaro é reconhecidamente um cultor da morte, um admirador da tortura, um homem chulo e sem nenhuma capacidade de se emocionar com a dor do outro. Não se manifestou com compaixão quando perdemos 700 mil brasileiros para o vírus. Não visitou um único hospital. Teve o desplante de imitar uma pessoa com falta de ar, na época da crise de oxigênio em Manaus. E respondeu com desdém e arrogância quando questionado sobre o número de mortos: “Não sou coveiro!”.
O que esse tipo estranho foi fazer no funeral da Rainha com o mundo inteiro acompanhando? Só podia mesmo ser um papelão! A cena do discurso na sacada da Embaixada foi muito constrangedora. O país em luto, consternado, e os bolsonaristas se esbaldando em agressões verbais aos ingleses. A foto do presidente sorrindo abertamente e cumprimentando espalhafatosamente o Rei
diz tudo. Que vergonha.
Lembro-me de um episódio no interior das minhas Minas Gerais. Nas cidades pequenas, nos anos 1950, ir ao velório - que era feito na sala das casas - era um programa nas noites geladas. Certa vez, um notívago viu um movimento em uma residência e entrou no
velório à procura de companhia. Logo percebeu que entrou numa fria: no interior, essas vigílias sempre tinham pinga, biscoito e doce; mas esse era um velório circunspecto.
Após uma hora, o intruso resolveu ousar: chamou as pessoas ao lado do caixão, todas caladas e sombrias, e propôs: cada uma poderia dar uma pequena quantia em dinheiro e ele iria ao bar mais próximo comprar uma bebida quente e algo de comer para
enfrentarem a madrugada. Imediatamente todos toparam. Enquanto o dinheiro era recolhido, a viúva, que ouviu a proposta e chorava ao lado caixão, se sensibilizou e disse que iria buscar uma quantia para contribuir. O cidadão não teve dúvida e
respondeu: “A senhora não precisa dar nada, a senhora já entrou com o defunto.”
A sensação que ficou nesse vexame internacional é que, se o presidente falasse inglês, ele teria dito algo parecido ao Rei. Por sorte nossa, ele mal fala o português. Pensem nisso quando forem votar no dia 2 de outubro. Na eleição presidencial, lembrem-se dos horrores a que esse presidente nos submete. E no Rio de Janeiro, vamos impedir a reeleição desse governador que já tem cinco secretários de Estado presos e que criou o bolsa bandido para empregar centenas de fantasmas na Ceperj com um custo de, pelo menos, R$ 226,5 milhões.
Sempre nos lembrando do mestre Mário Quintana: “O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente...”
Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay