Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação

Impressiona o número de brasileiros conhecidos, de renome em suas carreiras, que se aventuram em disputar eleições que dependem de milhares de votos. Alguns, em função de seu minuto de sucesso proporcionado pelo destino, conseguem pelo menos
um mandato e depois inconformados com o ostracismo ficam expostos a votações ridículas.
Conhecida nacionalmente quando senadora por Alagoas, Heloísa Helena é candidata a deputada federal pelo Rio de Janeiro, onde nunca morou. Foi deputada estadual em Alagoas e vereadora em Maceió, onde parece ter perdido as condições de elegibilidade. Atuou sempre na esquerda mais radical, tendo sido do PT, depois do PSOL e recentemente da Rede, partidos que têm posições fortes no marxismo populista.
Também no Rio, tentativas de eleger parentes não costumam dar certo. O vereador e ex-prefeito Cesar Maia, que foi do PDT e migrou para o DEM, em recaída de seu esquerdismo na juventude e de exilado no Chile, é vice do candidato do PSB, Marcelo Freixo, ex-PSOL, pelo PSDB de FHC, colocando sua filha como candidata a deputada federal. O partido não deve fazer nenhum representante na bancada federal fluminense e seus eleitores são das classes médias de centro-esquerda que não votam em
Freixo.
Ainda no Rio, a candidatura sem chance do General Pazzuelo, de melancólica passagem no Ministério da Saúde na pandemia. Em São Paulo, a Sra. Rosangela Moro, mulher do ex-juiz, não deve se eleger e o marido, Sergio Moro, corre riscos no Paraná, onde disputa o Senado com seu antigo padrinho Álvaro Dias.
O notável Rui Barbosa foi candidato a presidente três vezes com votações pífias. Uma pena não termos hoje representação compatível com maior qualidade. Entre empresários, tivemos da Constituinte de 1946 para cá nomes notáveis, como Brasilio Machado Neto, Guilherme Afif, Paulo Maluf, José Maria Whitaker, Pereira Lopes, Herbert Levy, de São Paulo, Magalhães Pinto, Gilberto Faria, Nylton Velloso, de Minas, Jessé Freire, do Rio Grande do Norte, que presidiu a CNC, Albano Franco, de Sergipe, que presidiu a CNI, e daí por diante.
Mesmo no passado, ilustres brasileiros se deixaram encantar por um mandato popular sem sucesso. Caso de João Havelange, nome maior de nosso futebol, em 1962, quando do bicampeonato, três meses depois não conseguiu uma cadeira de deputado estadual no então Estado da Guanabara.
Eleição merece um estudo à parte. Na Constituinte de 1946, o ex-presidente Artur Bernardes ficou como primeiro suplente, só assumindo pela nomeação do titular, de 23 anos, para diretor de um banco oficial mineiro. Um dos maiores empresários do Brasil, Antônio Ermírio de Morais, foi candidato ao governo de São Paulo e chegou em terceiro lugar.
A política mudou. Até bem pouco havia muitos políticos com assento na Academia Brasileira de Letras, desde Rui Barbosa, Augusto de Lima, Menotti Del Picchia, Luiz Vianna Filho, Assis Chateaubriand, Roberto Campos, Marco Maciel, Getúlio Vargas, Oscar Dias Corrêa, Darcy Ribeiro, Mário Palmério, João Luís Alves. Hoje, apenas José Sarney, eleito muito antes de ser presidente. FHC não conta.

Superando o desafio desta eleição, ganhando velocidade o desenvolvimento econômico e social, uma reforma política poderia voltar a atrair um segmento mais preparado a aperfeiçoar nossa democracia, sem demagogia, ideologia e corrupção.
Aristóteles Drummond é jornalista