Daniela Faertes, psicólogaDivulgação
Edward Lorenz, meteorologista, em 1961, trabalhando em modelo matemático para a previsão do tempo provou o contrário. Partindo dos mesmos dados de temperatura, umidade, pressão e direção do vento, apresentado duas vezes, em que na segunda os dados teriam sido arredondados em casas decimais, e que deveriam gerar o mesmo resultado, ou com diferenças pouco significativas, foi surpreendido com enorme diferença. A variação dos números era mínima, equivalente ao bater de asas de uma borboleta. Daí nascia uma das teorias mais revolucionárias da Ciência, chamada de “teoria do caos”, que equivalia dizer que o vento que causa o bater de asas da borboleta em um local pode ocorrer em outro país.
Assim, o Efeito Borboleta está aí para provar que através de variações pequenas, somos capazes de gerar enormes mudanças. Usamos a teoria em analogia aos comportamentos cotidianos, tido como “micros”, que fazemos ou deixamos de fazer e que podem desencadear, no futuro, coisas maiores, no qual não teríamos ideia de que aconteceriam. Desde as compras “baratas” que geram o susto do cartão de crédito no fim do mês, como ir ou não a um evento em que se conhecia a pessoa que se casaria e teria filhos, o que se come em cada refeição e o resultado da obesidade ao longo dos anos, a gentileza ou grosseria que muda o humor de alguém que vai lidar com outras pessoas e tomar decisões ao longo do dia que afetam outras pessoas, os cinco minutos de meditação diária que se deixou de fazer que culmina em infarto.
Estar desacreditado ou não querer se envolver é forma de já estar envolvido. O comportamento ativo tem impacto direto, mas o passivo também.
Há quem esteja desmotivado e desacreditado com a política e, por isso, pretende não votar. No entanto, essa “simples” escolha de se abster pode ter consequências enormes. A condição de neutro já não existe, se é que em algum dia existiu.
O olhar para a política tende a ser para o humano algo estruturante, cívico, importante para necessidades ancestrais de pertencimento e segurança do ponto de vista psicossocial. O que vemos com a polarização dessas eleições é a saúde mental do brasileiro, já castigada com a grave crise econômica e pandemia, extremamente abalada. Após a ditatura, nenhum cenário político fez tão mal à saúde do brasileiro quanto o atual. Emoções como medo, ansiedade e raiva são facilmente desencadeadas quando se acessa o assunto.
Segundo pesquisa inédita da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), 67,5% dos entrevistados afirmam ter medo de serem agredidos fisicamente em razão de sua escolha política ou partidária. Do total de ouvidos, 3,2% relatam ter sofrido ameaças por motivos políticos no último mês. São cerca de 218,6 milhões de intimidados por expor opiniões e 5,3 milhões que, de fato, já sofreram ameaças. O estudo é do Instituto Datafolha, que ouviu cerca de 2.100 pessoas entre os dias 3 e 13 de agosto em cerca de 130 municípios.
O Efeito Borboleta traz a percepção e a consciência do poder unitário de um comportamento. Acontecimentos adversos fora do controle podem ter impactos intensos. Mas o principal é termos noção de como as micro ações ativas ou passivas podem impactar em nossas vidas e nas de outros ao redor do mundo.
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