Júlio Furtado Divulgação

Vida de professor nunca foi fácil, muito menos tranquila. Trabalho árduo na escola, tarefas extensas em casa, remuneração baixa e pouco reconhecimento caracterizam o complexo perfil dessa profissão muito valorizada nos discursos, mas quase esquecida na realidade das medidas governamentais.
Muita gente expressa surpresa ao tentar entender por que alguém escolhe uma profissão dessa: “Tem que ser maluco pra aturar falta de educação de filhos dos outros!”, “Não tenho estrutura pra isso, já teria enforcado meia dúzia e estaria presa!”; “Deve ser uma condenação espiritual, só pode!...”.
A questão é que estamos aí, vivendo (ou sobrevivendo) da melhor maneira possível e afirmando que começaria tudo outra vez se preciso fosse. Ser professor exige uma resiliência incomum, uma empatia fora do normal e uma esperança interminável de que o outro pode vir a ser melhor e de que o mundo será melhor amanhã.
Por sinal, sem essa esperança é impossível ser professor. Já dizia Paulo Freire, em sua sábia atitude, que a Educação é filha da esperança, mas não da esperança do verbo esperar, mas sim do verbo esperançar, que significa acreditar e agir incansavelmente.
Professor nasce, morre e ressuscita, muitas vezes num único dia! O nascimento docente se dá ao planejar seu trabalho, acreditando no seu fazer e no sentido social que sua tarefa enseja. As vezes o professor “morre” ao se sentir impotente para fazer um aluno aprender ou para levar um jovem a mudar seu comportamento. Essa “morte” é acelerada pela falta de apoio e estrutura para que ele possa seguir em frente. Mas é a ressurreição que nos move!
Ressuscitamos a cada vez que alcançamos um objetivo, a cada vez que ouvimos um obrigado ou a cada vez que recebemos um olhar de carinho. Dizem que certa vez perguntaram à Fernanda Montenegro o que ela diria para um jovem ator ou atriz em início de carreira e sua resposta surpreendente foi: “Eu diria desista!”.
Ao ser questionada por que, respondeu: “Se a pessoa concordasse é porque não era mesmo o seu caminho, mas se entrasse em conflito e chegasse à conclusão de que sua vida depende disso como ar que respira eu diria: Vai em frente!”.
Penso que o professor precisa da mesma resposta. Uma profissão que constrói vidas não pode ser exercida por quem não tem a força vital como propulsora. Parabéns para nós!
Júlio Furtado é professor e escritor