Wagner Cinelli de Paula Freitas é desembargador do TJRJ divulgação
(trecho do poema “O prazer de servir”, de Gabriela Mistral)
Pavena lá na Tailândia e Yvonne aqui no Brasil, duas mulheres corajosas que transformaram seus sonhos em realidade, interferindo positivamente na vida de pessoas em situação de desvantagem social. Vejamos um pouco do trabalho de cada uma.
A história da tailandesa Pavena Hongsakula me chegou pelo livro “Mulheres que brilham”, da jornalista Maria Cândida. Quando deputada, ao visitar uma instituição de acolhimento, conheceu uma menina de 11 anos que contou estar ali para fugir de um padrasto que a obrigava a se prostituir. Chocada com esse relato, tomou como bandeira ajudar mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade, assim o fazendo tanto no exercício de sua atividade parlamentar quanto na criação da Fundação Pavena, cujo objetivo é ajudar vítimas de crimes como estupro, prostituição forçada, tráfico de pessoas e trabalho escravo. Hoje atende entre 30 a 50 pedidos de socorro por dia e já recebeu mais de 100 mil chamadas desde 1999.
Atravessamos 16 mil quilômetros, de Bangkok ao Rio de Janeiro, e encontramos outra mulher de muito valor, a pedagoga e filóloga Yvonne Bezerra de Mello.
Atuava voluntariamente junto a grupos de crianças e jovens em situação de rua quando alguns deles se tornaram vítimas da denominada chacina da Candelária, ocorrida em 1993, episódio em que dois veículos dispararam contra pessoas que dormiam nas proximidades da igreja ali situada, causando a morte de oito delas, com idades entre 11 e 19 anos.
Yvonne se posicionou publicamente diante desse crime e seguiu com sua atividade social, que tem por base a prevenção através da educação. O tempo passou e essa prática deu lugar ao Projeto Uerê, nascido em 1998, escola modelo no atendimento a crianças traumatizadas pela violência.
Pavena e Yvonne sabem que proteger a infância e a adolescência não é uma opção. Por isso, o bordel não pode ser a casa da menina nem a rua o quarto de ninguém. Afinal, essas tristes realidades colocam em perigo a formação, a saúde e a vida de pessoas, especialmente os mais jovens, que merecem proteção do Estado e da sociedade.
As duas protagonistas deste texto sabem disso e – exatamente por isso – fazem tão bem a sua parte. Que o exemplo dessas mulheres extraordinárias nos contamine e que possamos, o quanto antes, reduzir a escuridão ainda existente em tantos lugares.
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