Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação

Serenados os ânimos, diante do fato consumado e inquestionável da vitória de Lula-Alkmin no último dia 30 de outubro, é preciso se tirar conclusões do resultado e alertar para os próximos passos do processo econômico e político que o Brasil vai viver.
O inacreditável é que o primeiro presidente não reeleito, depois do “golpe da reeleição” de FHC, foi o que apresentou melhores resultados. Formou uma equipe com meia dúzia de craques, enfrentou pandemia e guerra com controle, retomando crescimento, recuperando empregos, com paz nas cidades e nos campos, sem greves políticas, com recorde de exportação, de reservas cambiais, saneamento econômico e moral das estatais, auxílio social ágil e vitorioso.
Deixou a desejar na Educação, com troca de ministros medíocres, nas trapalhadas – fatais na sua imagem –, na troca de ministros da Saúde e em declarações sobre pandemia, embora tenha feito excelente plano de vacinação, com atraso de um mês por bobagem pura, e pouco fez no campo das privatizações. Mas nas concessões e parcerias lavrou um tento que, sendo executados os projetos previstos, será um salto de qualidade nos nossos índices.
Foi displicente na política externa, incompetente na comunicação e no projeto político. Mas, o saldo foi positivo. A lição, ou constatação, é que eleição em dois turnos não se ganha com a turma de origem e mais alguns esclarecidos. Não se pode perder votos ao longo dos mandatos falando bobagens, piadas de mal gosto, gerando brigas e polêmicas. O povo gosta de presidente com postura de estadista, como foram os casos de Getúlio, JK, Castelo Branco, Médici, ou discretos e afáveis, como Sarney e Itamar.
Bolsonaro conseguiu levar parte da burguesia conservadora ao voto irresponsável, gerado por ele e alguns companheiros de jornada de sua estranha intimidade. Na véspera do pleito, foi aquela deputada correndo pela rua de revólver em punho, a tirar mais uns votos. No dia da eleição, cometeu a grosseria de declarar voto no Sr. Daniel Silveira, quando seu partido tinha como candidato a reeleição o senador Romário. Um despreparado total. E mostrou na derrota que tem adeptos que mais se parecem com torcidas organizadas violentas.
Agora, aqueles que não têm uma formação e convicção de esquerda, bolivariana, vão sofrer com as pressões sobre o eleito, Lula da Silva, para incorrer nos erros do passado, como empréstimos a países que já nos devem e nunca pagaram, a tolerar greves que permitiram os ganhos dos últimos anos, conciliar com a barbaridade do MST, a tentação de aumentar impostos, punir (e assustar) o capital gerador de emprego e renda.
E, por último e não menos importante, vai acabar tendo de nomear gente com prontuário pouco recomendável. Menos por Lula e mais pelos parceiros ideológicos. As nomeações e os primeiros cem dias vão mostrar a que veio esta inacreditável volta ao poder de um grupo tão desgastado.
A oposição terá de encontrar um nome confiável, preparado. Bolsonaro continuará a ser um líder relevante, carismático, mas nunca um articulador político. Faltam a ele experiência, temperamento conciliador, habilidade e credibilidade. No meio político, liderará os filhos e mais alguns fiéis escudeiros como General Pazzuelo e Carla Zambelli.
Aristóteles Drummond é jornalista