Por paulo.gomes
Rio - Na guerra contra o mosquito Aedes aegypti, as batalhas são diárias dentro e fora dos laboratórios. Enquanto militares lutam contra os criadouros, desde sábado, cientistas conseguiram desenvolver um teste capaz de detectar o vírus Zika em até 20 minutos. No mesmo dia em que 70 mil militares percorreram 24 cidades fluminenses atrás de larvas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) concedeu registro à empresa canadense Biocan Diagnostrics Inc.
O teste não detecta o vírus diretamente, mas os anticorpos em amostras de sangue, mesmo após o vírus já ter sido eliminado do corpo. Atualmente, o diagnóstico é feito pelo PCR, que só é capaz de apontar a infecção durante o período de manifestação dos sintomas, que dura entre 2 e 7 dias.
Em todo o País%2C militares convocados para atuar na força-tarefa ‘zika zero’ tiveram resistência para entrar em 15 mil casas. Outras 295 mil residências estavam fechadasMaíra Coelho / Agência O Dia

Nesta segunda-feira, 12 mil militares do 1º Batalhão de Polícia do Exército (BPE) visitaram 318 residências no Rio, entre casas, vilas, condomínios e prédios, em bairros como Tijuca e Centro. “Eles me recomendaram aplicação semanal de uma colher de sopa de sal ou de sal grosso diretamente no ralo”, explicou a psicóloga Rita Pinheiro, de 51 anos, que concordou em receber os agentes. “No começo a gente fica com receio de abrir a porta, mas vendo o Exército fico mais tranquila”, contou.

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Segundo o comandante do 1º BPE, coronel Isaías Martins Júnior, as ações de conscientização já foram feitas nas outras etapas e agora é hora de colocar a mão na massa. “Estamos indo nas casas para analisar se tem foco e como está sendo o cuidado”, explicou. Nas casas liberadas, agentes de endemias usaram larvicidas em águas paradas para evitar a proliferação do vetor, o mosquito. “Não temos permissão de entrar em lugares privados, casas fechadas, ou terrenos cercados”, disse o coronel.
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Em muitos casos, a presença do Exército não foi capaz de vencer a resistência de moradores que se recusam a abrir suas casas. A força-tarefa batizada de ‘zika zero’ esteve presente em 428 municípios e visitou 2,8 milhões residências em todo o País. Dessas residências, 295 mil estavam fechadas e 15 mil não permitiram a entrada dos militares.
Os moradores que não autorizaram a entrada do Exército serão notificados pelas prefeituras locais. O Governo planeja multar pessoas que não permitirem a entrada de agentes de saúde em suas casas ou reincidirem na manutenção de focos do transmissor da dengue, da zika , da febre amarela e da febre chikungunya.
Junto com militares do Exército%2C agentes colocaram larvicida nas casas para evitar proliferação do AedesMaíra Coelho / Agência O Dia

O ministro da Saúde, Marcelo Castro, lembrou que, com a Medida Provisória nº 31.428, editada no dia 4 de fevereiro, agentes podem forçar o ingresso em imóveis públicos e particulares abandonados. O morador da Tijuca, Otávio de Abreu, concordou em abrir a casa: “É para um bem comum”, diz. A mobilização vai continuar até esta quinta-feira.

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Cientistas da UFRJ detectam vírus Zika no cérebro de bebês
Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) encontraram o vírus Zika no cérebro de dois bebês que nasceram com má formação cerebral, mas não sobreviveram. A pesquisa, feita em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), revelou pela primeira vez os efeitos diretos da zika em bebês infectados durante a gestação. A descoberta reforça a ligação da doença e os casos de microcefalia.
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O estudo pioneiro mostra que mesmo após a melhora das gestantes, os fetos continuam sendo afetados pela infecção. O resultado é a base para o desenvolvimento de uma vacina eficiente no combate ao vírus.
Em outra pesquisa, do do Instituto Emílio Ribas, cientistas descobriram que o vírus Zika podem provocar, desde quadros de microcefalia, na gestação, até, no futuro, a perda progressiva da visão, surdez e diferentes graus de atraso intelectual.
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Depósitos fixos concentram maior foco de infestação
Mapeamento feito pela Prefeitura do Rio mostra que os depósitos fixos (tanques em obra, borracharias, hortas, calhas, cacos de vidros em muro, toldos em desnível) são responsáveis por três em cada dez focos do Aedes. O lixo, como garrafas, latas, sucatas em pátio e ferro velhos também estão na lista de alto índice de infestação.
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Antes a caixa d'água e as bromélias ofereciam maior risco. Segundo o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, os bairros de Madureira e Campo Grande, na Zona Oeste, são as áreas mais preocupantes.
Reportagens das estagiárias Carolina Moura, Julianna Prado