Por gabriela.mattos

Rio - A crise financeira que atinge o Estado do Rio tem feito a cada dia novos reféns. Sem dinheiro para pagar funcionários e fornecedores, o Instituto Estadual de Hematologia (Hemorio) decidiu fechar as portas para doadores de sangue neste domingo. Uma medida extrema que não acontecia há mais de 10 anos. Pacientes que dependem do hospital também sofrem com a falta de antibióticos, com demora nos tratamentos de quimioterapia e na interrupção do atendimento da pediatria, que está interditada por causa de infiltrações, sem previsão de obras ou reparos.

Das 33 categorias de servidores estaduais do Rio, 20 estão paralisadas. Educação, saúde, judiciário e segurança aderiram greve por tempo indeterminado. Nesta sexta-feira, 150 técnicos administrativos do Hemorio, do Instituto de Diabetes e de Cardiologia, foram as ruas protestar contra dois meses de atraso nos salários, a suspensão do vale transporte e refeição, e a falta de servidores, como maqueiros, recepcionistas e vigilantes.

Sem dinheiro e equipe menor%2C Hemorio fechará as portas para doadores no domingo. Vinte categorias pararamDivulgação

Além da ausência de equipes, o Hemorio reduziu em 10% a coleta de sangue. “Cortaram o auxílio transporte na semana passada. Como a gente vem trabalhar desse jeito?”, questionou um dos organizadores do protesto, Ricardo Del Rio Cruz. Segundo ele, dos 180 terceirizados, 20% estão trabalhando, mas não sabem até quando.

O Hemorio, responsável pelo abastecimento de cerca de 180 unidades de saúde, declarou que está atuando com equipe reduzida. Antes, o salão dos doadores ficava de 6h às 18h, agora, com a crise, desde terça-feira o horário passou de 7h às 16h e consultas ambulatoriais estão sendo remarcadas.

A média de doadores por dia era de 250 pessoas. Atualmente, o número caiu para 200. Cada um pode doar uma bolsa de sangue, que contém 450 ml — 112,5 litros por dia, sem a greve. Com a queda de doadores, são cerca de 90 litros arrecadados por dia, 45 litros a menos.

De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, no mês passado a Fundação Saúde, responsável pela administração direta do Hemorio, não recebeu repasses da Secretaria Estadual de Fazenda. “Diante do atual cenário de dificuldade financeira, a Secretaria Estadual de Saúde tem reunido esforços para manter o funcionamento de todas as unidades, inclusive do Hemorio e para isso vem contando com a parceria dos funcionários”, informou em nota.

A Secretaria acrescentou que reconhece os problemas pontuais, mas garantiu que todas as unidades da rede estão funcionando.

Procurada pelo jornal, a empresa Angels, responsável pelos funcionários terceirizados do Hemorio, não retornou as ligações do DIA.

Faltam papel higiênico e vales refeição e transporte

Frota reduzida, precariedade na limpeza dos banheiros e falta de produtos básicos como papel higiênico e água potável, são dificuldades diárias que funcionários da Polícia Civil enfrentam todos os dias nas delegacias do estado. “Tem tempo que não temos água para beber e papel higiênico. Cada um que traga o seu ou que compre”, comentou um dos agentes da 13ª DP (Ipanema).

Apesar dos atrasos, o atendimento nas delegacias está mantido. Com equipe menor, os policiais orientam vítimas de crimes de menor gravidade, como furto, a registrar a ocorrência pelo site da Delegacia de Dedicação Integral ao Cidadão (dedic.pcivil.rj.gov.br).

Após O DIA divulgar a falta de papel ofício para imprimir registros de ocorrência na Delegacia do Leblon (14ª) e das delegacias vizinhas, Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat) e a Divisão Anti-Sequestro (DAS), no último domingo, as unidades garantiram que ontem receberam o material.

Funcionários da empresa terceirizada PROL, em diversos cargos da Polícia Civil, reclamam não só de atrasos dos salário, mas também, do repasse no vale transporte. “Não estão sendo carregados”, criticou um outro agente. Procurada, a Polícia Civil não retornou para comentar as denúncias.

Mulher doa R$ 50 e chama bombeiro de anjo do asfalto

Uma senhora ficou emocionada com a atitude do cabo do Corpo de Bombeiros, Altamir Cruz, de 31 anos, e deixou dinheiro e uma carta elogiando o profissional. Na manhã de quinta-feira, Altamir deixou sua casa na Ilha do Governador para chegar caminhando até o Quartel de Charitas, em Niterói, já que não tinha o dinheiro da passagem.

Na mensagem, Sueli Moraes chama o bombeiro de anjo do asfalto. “Ao herói desconhecido da Linha Vermelha. Querido anjo do asfalto, amado bombeiro, desconhecido é o seu nome, conhecida é a sua bravura. Vi a reportagem na TV, meu coração travou, meus olhos ficaram soltando lágrimas. Vi sua expressão de sofrimento e sofri com você. Tenha certeza quantos brasileiros viram esta reportagem estarão rezando e sofrendo, porque queridos anônimos, nós o amamos... Não desanime. Deus está com você. Estou humildemente ofertando R$50. Por favor, não recuse. Será uma ofensa.”

A senhora lembrou que recentemente sofreu um problema de saúde e foi socorrida pelos bombeiros. Fardado, o cabo Cruz caminhou cerca de três horas e foi resgatado por uma viatura da corporação na entrada da Ponte Rio-Niterói e levado para o quartel em Charitas.

Reportagem das estagiárias Carolina Moura e Julianna Prado. Colaborou Maria Inez Magalhães

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