Por tiago.frederico

Rio - Ativistas LGBT preparam para sexta-feira, dia 22, um beijaço em protesto contra um ataque homofóbico sofrido por um jovem gay. O promoter Paulo Victor (ele pediu para não ter o sobrenome divulgado), 20 anos, foi vítima de brutal violência na madrugada do último domingo. Ele estava com amigos próximo a uma boate na Praça Tiradentes, Centro do Rio, quando um homem o agrediu com vários socos e chutes ao longo do corpo, a maioria no rosto. Paulo Victor precisará passar por uma cirurgia para a reconstrução da face já que teve um osso quebrado pelo criminoso.

Ele procurou atendimento no Hospital Municipal Souza Aguiar, também no Centro, onde foi medicado e levou seis pontos.  O caso foi registrado na 5ª DP (Centro), mais próxima do local do crime.O promoter lembra que por volta de 2h de domingo,estava com amigas que trabalham como ambulantes na rua quando um grupo de seis homens, entre eles o agressor, se aproximou.

"Eu saí de uma boate onde eu trabalho para ir em direção a uma outra casa onde uma amiga comemorava o aniversário. No meio do caminho, encontrei amigas que trabalham como ambulantes. Ficamos conversando, dançando, já que elas usam uma caixa de som para atrair os clientes. Esse grupo de seis homens que estava do outro lado da rua se aproximou e começou a brincar com a gente, se metendo nas fotos que a gente tirava. De repente, um dos caras que estava no grupo me chamou. Eu pensei que eu tivesse deixado cair algum objeto. Não cheguei a sequer falar com ele. Eu só dei um passo pra frente e, quando vi, já estava sendo agredido. Fui derrubado no chão e atingido com vários chutes no rosto", contou.

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Ele foi ajudado pelas ambulantes, que aplicaram gelo no local. O agressor, pelo relato da vítima, continuou a se divertir com os amigos. "As minhas amigas ficaram apavoradas com o jeito que meu rosto ficou. Elas tentaram chamar uma viatura da PM que passou, mas os policiais ou não ouviram ou não quiseram parar. A minha preocupação foi sair logo dali e procurar o hospital", disse o promoter.

As amigas disseram a ele que o autor do crime teria tentado justificar as agressões por ter sido molestado com uma "passada de mão na bunda". "Ele queria uma desculpa para bater em alguém. Isso (o assédio) é mentira. Não cheguei perto dele. Não nos falamos. Eu sou muito tímido. Jamais faria algo assim com qualquer pessoa. Quem viu, disse que ele me bateu como um animal", disse.

Paulo Victor aguarda o andamento das investigações. A Polícia Civil informou que está em busca de câmeras de segurança que possam ter registrado o crime. "Eu só espero que a justiça seja feita. Que essa pessoa reflita e pague pelo que ela fez. Eu tenho muita sorte de estar vivo, eu poderia não estar aqui para contar o que aconteceu", lamentou a vítima.

Relatos de violência nas redes sociais

Nos últimos dias, quatro relatos de agressões contra LGBTs chocaram as pessoas nas redes sociais. O casal formado pela fotógrafa Carol Kappain e a designer Roberta Fortes acusa seguranças da boate Paris Café de agressão. As fotos das vítimas com hematomas chocaram as redes. As vítimas ainda relatam que foram retiradas da casa noturna aos gritos de "Vai embora daqui sapatão". A boate, localizada na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, nega as agressões e diz que a briga foi entre o casal.

Em Pernambuco, o estudante de Pedagogia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), Robson Guedes, foi espancado depois que os criminosos o viram caminhando com o namorado de mãos dadas. O caso aconteceu no bairro da Várzea, em Recife.

Depois de se despedir, ele voltava para casa sozinho quando foi surpreendido por dois homens que o abordaram com insultos homofóbicos. "Ta sozinho bichinha? Cadê o outro viado?", disseram os agressores. Ele recebeu socos e chutes na barriga. "Tudo isso por um simples motivo: duas mãos dadas", desabafou o jovem no Facebook.

Um relato de um adolescente de 16 anos provocou comoção pela crueldade por ele sofrida. O rapaz, morador de Itaquaquecetuba, São Paulo, contou que foi enforcado e golpeado com socos na boca pelo próprio pai ao contar que é homossexual.

O rapaz deixou a casa onde morava e saiu apenas com a roupa do corpo. Ele buscou abrigo na casa de uma tia do namorado.

No último dia 6, o jovem trans Kaique Klein, 18 anos, foi vítima da transfobia. Ele voltava para casa, na madrugada da última quarta-feira, depois de assistir às aulas na faculdade. Dois homens o abordaram e o agrediram com socos e pontapés. O crime aconteceu próximo da estação de trem de Jardim Silveira, distrito de Barueri onde o jovem mora com a família.

Ele ainda foi vítima de insultos transfóbicos durante o espancamento. “Eles gritavam: Você não é homem? Então aguenta a porrada. Vamos fazer você voltar a ser mulher. Você não tem pinto. Diziam essas coisas absurdas”, recorda o estudante. “Eu caí quando um deles me deu o soco. E quando foram me chutar, eu me virei e um deles acertou meu ombro com o pé”.

Em nenhum dos casos citados houve a prisão ou pelo menos a ida de suspeitos para prestar depoimento na delegacia até o momento.

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