Rio - Com 25 metros de comprimento do focinho até a ponta da cauda, era maior que um ônibus articulado do BRT — que tem 23 metros. A altura media o equivalente a um prédio de três andares — entre 8 e 9 metros. O gigante era um animal majestoso (magnificus, em latim). Por causar tremor onde passava, foi batizado com referência a Poseidon, o Deus dos terremotos, como reza a mitologia grega. Daí o nome dado ao maior dinossauro do qual já se teve notícia no Brasil, revelado ontem por pesquisadores brasileiros no Rio: Austroposeidon magnificus.
A partir de hoje, quem visitar o Museu de Ciências da Terra, na Urca, vai poder ver de pertinho — e de graça — 11 pedaços de vértebras do pescoço e da coluna desse representante dos titanossauros, além de uma reconstrução do braço em tamanho natural, que ficarão em exposição permanente. Os cientistas estimam que a espécie reinou no país há cerca de 70 milhões de anos, quando América do Sul, África, Índia, Antártica e Austrália ainda formavam um supercontinente. Eram herbívoros, com corpo bem desenvolvido, pescoço e caudas longos e crânio comparativamente pequeno.
Segundo a técnica em Geociências Nathalia Roitberg, responsável pela administração do museu, os visitantes poderão apreciar uma exposição multimídia com as projeções em tamanho real das vértebras alocadas em uma reprodução da espécie. O espaço fica aberto de terça-feira a domingo, na Avenida Pasteur, 404, das 10h às 16h.
Roitberg ressalta a importância da descoberta. “É um novo ser do Cretáceo (período da era Mesozoica compreendido entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás) revelado. O estudo inova bastante a pesquisa paleontológica ao descrever a maior espécie do país e é um passo marcante para as próximas gerações”, diz ela.
Os restos do dinossauro foram coletados, na década de 1950, nas proximidades da cidade de Presidente Prudente, sudoeste do Estado de São Paulo, por um dos principais paleontólogos brasileiros, Llewellyn Ivor Price (1905-1980). Por falta de verba para pesquisa, ficaram guardados no museu da Urca todo esse tempo. Nos últimos três anos, seis pesquisadores trabalharam para decifrar os achados. Eles são do Museu de Ciências da Terra (CPRM), do Museu Nacional da UFRJ, da Petrobras e das universidades Federal Rural de Pernambuco e Estácio de Sá.
Antes do magnificus, tinham sido descobertas nove espécies de titanossauros no Brasil. Até então, a maior delas era a Maxakalisaurus topai, com mais de 13 metros de comprimento e menos de 5 metros de altura. Foi revelada por estudiosos em 2008, com base em achados no Triângulo Mineiro.
“Geralmente, são localizados apenas fragmentos desses dinossauros. Acreditamos que esse animal era um banquete para todos os outros, que vinham, experimentavam e destruíam esse material”, aponta o paleontólogo Alexander Kellner, pesquisador da UFRJ. De acordo com ele, partes do maior dinossauro do mundo — estima-se que tenha medido de 36 a 37 metros de comprimento — foram encontradas na Argentina.
Recursos são escassos
Para os pesquisadores, a descoberta não contribui só com novas informações sobre a evolução dos dinossauros, mas mostra que espécies gigantes também reinavam no Brasil, ao contrário do que se imaginava. “Temos recursos escassos para a paleontologia. Por isso, criamos um movimento para chamar a atenção das autoridades para o problema”, explica Alexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ.
O baixo financiamento levou à demora para se estudar o Austroposeidon. “Em certo momento, houve a pergunta científica por que no Brasil o dinossauro é sempre pequeno. Diante do investimento, decidimos investigar”, diz Kellner.
A pesquisa foi financiada pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O custo com material foi de R$ 10 mil. Com um tomógrafo, o estudo revelou características novas dos titanossauros, como anéis de crescimento intercalados com um tecido ósseo mais denso, cujo significado não é bem compreendido. O sexo e o peso do animal são desconhecidos.