Rio - Com participação de integrantes de movimentos sindicais, estudantis e populares, além de entidades e representantes de trabalhadores, Igreja Católica e de outras denominações, o Coletivo 9 de Novembro – Centro de Referência e Memória, promoverá, na próxima quarta-feira, no auditório da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Volta Redonda, no Sul do estado, um debate sobre os 28 anos do massacre de três operários pelo Exército, na histórica greve da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) de 1988. O evento terá entrada franca e acontecerá entre 17h e 21h.
Em parceria com a TVR-UFF Aterrado (TV Universitária) e com o curso de Direito da UFF, sob supervisão da professora Carla Appolinnária, o debate contará também com quatro turmas da disciplina.
“A memória do principal marco da luta trabalhista do Brasil recente, jamais pode ser esquecida”, justifica Erasmo José da Silva, professor de História e documentarista, que vai compor a mesa com Isaque Fonseca e Sandra Mayrink Veiga, autores do livro `Volta Redonda Entre o Aço e as Armas´; dom Francisco Biasin, bispo da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda; Ernesto Germano Parés, jornalista; e Alexandre Habibe, engenheiro e professor.
Além de enaltecer a data e a memória dos três mártires – Willian, Valmir e Barroso - daquela greve, o Coletivo 9 de Novembro tem como objetivo social desenvolver trabalhos de resgate e preservação da memória de Volta Redonda, através de trabalhos em escolas públicas e universidades. O movimento também visa promover palestras sobre a importância da construção de um Centro de Memória Municipal . Busca ainda a efetivação de tombamento para o Monumento 9 de Novembro, na praça Juarez Antunes.
O debate contará também com a presença de Annyelly Domingues, professora da UFRJ e secretária da Central Única dos Trabalhadores (CUT) Nacional, e de Claudia Giannotti, do Núcleo Piratininga de Comunicação (NPC), viúva de Vito Giannotti, escritor italiano que escolheu o Brasil para viver e se dedicar aos movimentos sociais. A UFF fica na Av. dos Trabalhadores, 420, na Vila Santa Cecília, em Volta Redonda. Maiores detalhes podem ser obtidos pelo site https://www.facebook.com/ Coletivo-9-De-Novembro-Centro- de-Refer%C3%AAncia-e-Mem%C3% B3ria-705069136323443/?fref=ts
Memória
Os funcionários da CSN entraram em greve no dia 7 de novembro de 1988. Na pauta de reivindicações, os operários pediam a implementação do turno de seis horas, reposição de salários usurpados por planos econômicos e reintegração dos demitidos por atuação sindical. A greve atraiu toda a comunidade de Volta Redonda, que se posicionou em favor dos trabalhadores, que já estavam sendo apoiados pela Igreja Católica, através do então bispo dom Waldyr Calheiros, que ficou conhecido com “o bispo vermelho”.
No dia 9 de novembro, soldados do Exército de vários quartéis do estado, principalmente de Barra mansa, e do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro, dispersaram uma manifestação em frente ao Escritório Central da CSN e invadiram a usina.
Na invasão, foram assassinados William Fernandes Leite, 22 anos, e Valmir Freitas Monteiro, 27 anos, com tiros de metralhadoras, e Carlos Augusto Barroso, 19, que teve o crânio esmagado. Em consequência de um forte golpe desferido por um soldado com o cabo de uma metralhadora, o cérebro de Barroso, que já estava rendido e caído na hora do crime, foi achado por colegas de trabalho, no chão do pátio da empresa, conforme o DIA revelou, através de documentos, com exclusividade, uma década depois, na matéria intitulada “O Segredo Guardado por Dez Anos”.
Mesmo após os assassinatos e várias prisões, a greve continuou até o dia 23 de novembro. Na época, os trabalhadores conquistaram todas as suas reivindicações, que hoje estão ameaçadas. A cobertura da greve de 1988 rendeu ao DIA seu primeiro Prêmio Esso da história.
No dia 1º de maio do ano seguinte, com a presença do então presidente nacional da CUT, Jair Meneguelli, foi erguido na Praça Juarez Antunes, memorial em homenagem aos três operários. Mas horas depois o monumento, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyr , foi explodido por uma potente bomba. O memorial foi colocado de pé novamente, mas, a pedido de Oscar, carrega até hoje as marcas da violência da explosão.