Por gabriela.mattos

Rio - Aos 76 anos, Lúcia Magalhães de Souza chega ao consultório para aferir a pressão arterial. Em poucos minutos, já está conversando com toda a equipe de saúde. “Uma vez a enfermeira Ale já tinha acabado o expediente e ficou me esperando aqui porque eu tinha acabado de chegar e estava com a glicose muito alta. Eu precisei tomar soro e ela ficou me fazendo companhia. Todos eles me tratam com muito carinho”, conta.

A aposentada é uma das pessoas atendidas pela Clínica da Família Sérgio Vieira de Mello, no Catumbi. “Sou muito bem tratada aqui. Realmente, eu sinto que eles são da minha família. Eles me tratam dessa forma. Eu sinto um carinho enorme por toda a equipe”, derrama-se.

As Clínicas da Família fazem parte de um programa da Prefeitura do Rio que foi reformado a partir de 2009 para melhorar a atenção primária na rede pública de saúde. O modelo foca em ações de prevenção e no diagnóstico precoce de doenças. Até o fim do ano, estima a Secretaria municipal de Saúde, o atendimento chegará a mais de 4,3 milhões de cariocas, em 106 unidades espalhadas pela cidade.

Lúcia%2C de 76 anos%2C recebe apoio da equipe%3A 'Me tratam como se fosse da família'Daniel Castelo Branco / Agência O Dia

A equipe atende pacientes que residem próximo do local de atendimento. O trabalho é realizado por médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes comunitários de saúde, agentes de vigilância em saúde, dentistas e técnicos de saúde bucal. A técnica de laboratório Cátia Maforte, 35, diz que a unidade do Catumbi melhorou a vida dos moradores. “Foi uma coisa maravilhosa porque as pessoas que não tinham acesso começaram a ter. E aqui, eles se preocupam em ter o cuidado com cada pessoa. Meus filhos são muito bem atendidos”.

Na Clínica, a preocupação é cuidar do indivíduo. “Nós realizamos uma atitude ativa, vamos até os moradores para preveni-los de eventuais problemas”, afirma o médico Garcia Vergara. Para isso, visitas guiadas são realizadas nas casas dos pacientes. “É essencial que a Equipe de Saúde da Família conheça o contexto em que a população vive. Assim o profissional se adequa à realidade de cada um”, explica.

A dona de casa Nelyan Py Eyer, que acaba de dar à luz aos 43 anos, elogia o atendimento. “Aqui prevalece um clima de amizade. Eram os mesmos médicos que me atendiam durante toda a gestação. Eles me ajudaram muito porque era uma gravidez de alto risco”, conta ela, atendida em casa. “Também tive ajuda psicológica. Foi uma festa quando a Laura nasceu”.

O pré-natal também é aprovado por Rianne de Moura Neves, 35. “É um mérito dos funcionários desta unidade. Aqui é uma referência. O Thiago (diretor da clínica do Catumbi) criou até um grupo no WhatsApp para que pudesse tirar dúvidas com os médicos”.

Prevenção dá resultados econômicos e de saúde

Para o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, as clínicas da família previnem o agravamento de doenças e a consquente hospitalização. “Isso evita que os pacientes sofram doenças precocemente. Um diabético é tratado para evitar que tenha um acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto”. Os resultados são possíveis graças a um moderno e eficiente sistema de informatização, operado em boa parte da rede pela empresa HIS.

“Com o prontuário eletrônico, foi possível economizar recursos públicos porque evita, por exemplo, exames duplicados”, ressalta. O avanço no modelo de atendimento no Rio levou o Brasil a se destacar. Na terça-feira, Soranz recebeu um prêmio internacional da Wonca.

Pesquisa divulgada pelo Iabas — Organização Social (OS) contratada pela prefeitura para gerir 83 unidades — mostrou que 96,6% dos usuários aprovam os serviços. O levantamento identificou que 90,8% dos pacientes elogiam o atendimento por ter seus problemas resolvidos já na primeira consulta e 84,4% destacam a facilidade em marcar consultas.

Raios-x

Até 2008, só 3,5% da população eram atendidas pelo Programa Saúde da Família (PSF)

Com a ampliação do modelo, hoje a cobertura é de 66% e até o fim do ano, será de 70%

De 2009 a 2016, foram inauguradas 106 clínicas da família no município do Rio

Hoje, 66% da população já são beneficiadas: a Rocinha tem 100% da área coberta.

São 1,2 mil equipes de saúde da família, com 12 mil profissionais, entre médicos, enfermeiros, técnicos e agentes de saúde

?Reportagem da estagiária Marina Cardoso

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