A nova entidade vai formar, inicialmente, até 300 novos sambistas em um ano
Por tabata.uchoa
Rio - No ano do centenário do ritmo brasileiro mais admirado no mundo, uma notícia nota 10: o Museu do Samba, na Mangueira, vai se transformar numa escola de bambas. Referência em pesquisa, preservação de memória, guarda e mostra de acervos, o espaço, localizado a 200 metros da quadra da Verde-e-Rosa, vai ensinar ofícios ligados ao gênero a jovens e adultos a partir de 2017.
Nilcemar Nogueira%2C neta de Cartola%2C está à frente do dinâmico Museu do Samba%2C na ManngueiraMárcio Mercante / Agência O Dia
Nilcemar Nogueira, neta dos lendários sambistas Cartola e Dona Zica, revela que baluartes da velha-guarda do Carnaval carioca vão ensinar a tocar instrumentos de percussão e de cordas, como violão, cavaquinho, agogô, tamborim, cuíca, pandeiro, entre outros. No local também haverá aulas de samba no pé para quem ainda tem as ‘cadeiras duras’ e pouco gingado.
“Só no primeiro ano formaremos pelo menos 300 novos sambistas e compositores”, prevê Nilcemar, presidente do Museu do Samba, que costura ajudas governamentais e de ONGs internacionais. O espaço é mantido com R$ 1,2 milhão por ano. A maior parte da verba, que mantém atividades culturais e musicais, vem de uma organização não governamental de Nova Yorque.
Nilcemar Nogueira%2C neta de Cartola%2C está à frente do dinâmico Museu do Samba%2C na ManngueiraMárcio Mercante / Agência O Dia
“Sempre demos nosso jeito e não vai ser diferente com a escola”, garante Nilcemar, conhecida por sua luta pelo resgate das raízes do samba e pelas críticas ao atual modelo de desfiles carnavalescos. Graças a doações de sambistas e de parentes de ilustres nomes do samba, o acervo já tem mais de 30 mil itens, entre objetos pessoais, fotos, documentos históricos em papel e audiovisuais, e indumentárias. Até o Carnaval o espaço recebe a exposição ‘100 Anos do Samba’.
Patrimônio imaterial
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Criado há dois anos a partir do Centro Cultural Cartola fundado por Nilcemar em 2001, com objetivo inicial de preservar a memória do sambista mais famoso que o Rio já teve e sua obra antológica, o Museu do Samba vive seu apogeu. Além da exposição sobre o centenário do samba, no dia 7, a entidade, que já é Patrimônio Imaterial da cidade desde 2007, recebeu a medalha da Ordem de Mérito Cultural 2016. A maisis alta comenda do setor foi ofertada pela Presidência da República. “No dia 17, em Las Vegas (EUA), o CD com 30 regravações inéditas em exaltação à Mangueira, interpretadas por grandes nomes da MPB, como Alcione, Beth Carvalho, Martinho da Vila e Leny Andrade, concorre ao Grammy Latino 2016, na categoria ‘Melhor álbum de samba/pagode”, diz Nilcemar, orgulhosa.
Estátua de Cartola encantaMárcio Mercante / Agência O Dia
Selo dos 100 anos prestes a ser lançado
Com patrocínio da Secretaria Municipal de Cultura e apoio das Casas Bahia, da Ford Foundation e da Contemporânea Instrumentos Musicais, a exposição ‘100 Anos do Samba’ pode ser vista de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h. Estrangeiros pagam R$ 10 e brasileiros, a metade.
Com curadoria de Nilcemar Nogueira, a mostra conduz o visitante pela história e atmosfera do samba. Os ambientes são ilustrados por pinturas artísticas alusivas a épocas e berços do samba como a Pequena África de Tia Ciata, o Estácio do início do século 20, a Pedra do Sal e o Morro da Serrinha.
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No ritmo de batucada, as exaltações pelo samba não param: em dezembro, será lançado pelos Correios o selo comemorativo do centenário. A partir de março do ano que vem, o musical ‘Cartola’ será exibido em temporada no Teatro João Caetano.
Centenário é marcado por obra de Donga
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O marco dos 100 anos do samba faz referência ao registro de ‘Pelo Telefone’, considerada a primeira música do gênero a ser gravada no Brasil, em 1916, segundo a maioria dos autores. A data também se baseia em registros existentes na Biblioteca Nacional.
Composição de Ernesto dos Santos, o Donga, é atestada em documento, que pode ser visto no Museu. Outra raridade da mostra é o manuscrito de Cartola, de sua icônica composição ‘As Rosas Não Falam’.
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Objetos raros em exposição
O Museu do Samba, onde pesquisadores e museólogos recuperam fotos, documentos e objetos, reúne ainda outros objetos raros, como o violão de Cartola, a carteira número um de filiação de Silas de Oliveira à ala dos compositores da Império Serrano, o repique de mão criado por Ubirany (Fundo de Quintal) e o agogô de dez bocas, feito por Ciro do Agogô. Nas roupas de baluartes, destaque para o último vestido usado por Dona Zica, um terno de Zé Ketti e fantasias de Dodô da Portela, Aluísio Machado, Dona Ivone Lara e Tia Glorinha do Salgueiro. www.museudosamba.org.br.