Por gabriela.mattos
Rio - O plenário do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) decide hoje pela segunda vez se acata o pedido de prisão preventiva da ex-primeira dama do estado Adriana Ancelmo. O primeiro pedido, feito no dia 9 de novembro ao juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, foi negado. Com isso, o Ministério Público Federal fez um recurso para o TRF-2, que negou liminarmente, um dia antes de a Operação Calicute ser desencadeada, levando à prisão do ex-governador Sérgio Cabral Filho. Agora, o desembargador Abel Gomes irá analisar o recurso, junto com outros dois desembargadores, em plenário.
Adriana é suspeita de lavagem de dinheiro e de ser beneficiária do esquema criminoso, que seria chefiado pelo marido. A ex-primeira dama é advogada e sócia-proprietária de um escritório de advocacia no Rio. Durante investigações da Lava Jato, os procuradores encontraram pagamentos feitos em espécie para compras de vestidos, aparelhos eletrônicos e até capas de chuva. As volumosas quantias, divididas em várias parcelas de até R$ 9,9 mil, chamou a atenção dos investigadores.
Adriana foi conduzida pela PF no dia 17 para depor nas investigações que culminaram na prisão de CabralAntonio Lacerda / EFE

No despacho do juiz Sérgio Moro, de Curitiba, que pede a prisão de Cabral, as compras efetuadas por Adriana Ancelmo também são citadas. Ele analisou que “o fracionamento dos depósitos em valores inferiores a R$ 10.000 indica que os pagamentos foram deliberadamente estruturados para evitar a necessidade de identificação do depositante e escapar à fiscalização”. Moro ainda afirmou que tamanha movimentação de recursos em espécie foge à normalidade e indica que o casal, para ocultar o recebimento de propina, optou por adotar mecanismos de lavagem na aquisição desses produtos, evitando a via bancária oficial, como o débito em conta corrente.

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Entre as compras realizadas por Adriana, está a de seis vestidos da estilista Letícia Bronstein, requisitada por celebridades como Anitta, Mariana Ruy Barbosa, Mirela Santos, Taís Araújo, Cláudia Leite, além de socialites. A compra dos vestidos foi totalizada em R$ 57 mil, parcelada em sete vezes, entre janeiro e março de 2014.
Há outros gastos exóticos: o conserto de duas capas de chuva e a aquisição de dois veículos elétricos por R$ 50.438. Ela também gastou R$ 72 mil em equipamentos gastronômicos, e outros R$ 56 mil em móveis. Em compra realizada em 2015 ela pagou R$ 40 mil por dois mini buggys.
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A caixa de joias de Adriana foi totalmente confiscada. Nela havia anéis e colares de marcas renomadas como H Stern e Cartier. Na sexta-feira, R$ 10 milhões foram bloqueados de sua conta pessoal. A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Adriana.
Nas contas de Cabral, R$ 454
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O Banco Central encontrou ontem R$ 10 milhões em apenas uma das contas bancárias pessoais de Adriana. Já nas contas pessoais de Cabral, havia apenas R$ 454,26. É a primeira vez, desde o começo da Lava Jato, que o valor encontrado em apenas uma das contas bancárias de um investigado atinge o valor integral do bloqueio determinado pelo juiz Sergio Moro.
Em depoimento à Polícia Federal, revelado ontem pela Justiça Federal do Paraná, o ex-governador disse que “tem a consciência tranquila quanto às mentiras absurdas que lhe foram imputadas” e que “acredita na Justiça”. Ontem, foi negado o pedido de habeas corpus do ex-governador pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região, pelo desembargador Abel Gomes. O magistrado alegou que “falta às alegações relatado concatenado e substancial que possam mostrar que não houve justa causa para a prisão preventiva”.
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À PF, Cabral disse se sentir indignado com a sua prisão e negou ter recebido propinas. Ele que “jamais adotou medidas para intervir nas decisões da Petrobras” e que sequer tinha informações sobre licitações e contratos da empresa. O ex-governador afirmou que sabia de reuniões entre a Cedae e a Secretaria de Meio Ambiente e diretores da Petrobras, para tratar apenas da licenças das obras do Comperj.