Por bianca.lobianco
Rio - Após publicar 78 decretos cortando despesas da prefeitura e anunciando as primeiras medidas de sua gestão, o prefeito Marcelo Crivella (PRB) tomou posse ontem afirmando que, neste momento, “é proibido gastar”. “O país está em crise. O Rio de Janeiro está em crise. A cidade está nesse cenário. É tempo de cautela”, afirmou em discurso que durou cerca de 40 minutos, na cerimônia na Câmara dos Vereadores, que começou às 12h40.
Em cerimônia cordial%2C Paes entregou a Crivella a chave da Fortaleza de São João%2C na Urca%2C onde a cidade foi fundada por Estácio de SáErnesto Carriço / Agência O Dia

Crivella agradeceu a Deus pela oportunidade de governar a cidade e prometeu implementar o turno integral nas creches e escolas da rede municipal que atendem crianças em período pré-escolar. À tarde, em outra cerimônia, no Palácio da Cidade, onde recebeu a chave da cidade do antecessor Eduardo Paes, prometeu reavaliar o IPTU de algumas áreas e fazer pente-fino em contratos sem licitação.

Questionado sobre qual é o mais importante dos 78 decretos, ele citou aquele que trata da “preparação para o combate às doenças do verão, sobretudo chicungunha, dengue e zika”, todas transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Entre as medidas publicadas em edição extra do Diário Oficial ontem, estão, ainda, a criação de plano para aumentar em 20% o número de leitos hospitalares, a suspensão da cobrança de pedágio para motociclistas na Linha Amarela e da racionalização das linhas de ônibus (leia mais sobre as medidas na página 4).
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Entre as medidas de austeridade anunciadas por Crivella estão a redução de 24 secretarias para 12, o corte de 50% dos cargos comissionados (com exceção das secretarias de Saúde e Educação), além da criação de grupo de trabalho para apresentar plano de aumento da arrecadação. A prefeitura estuda, ainda, a possibilidade de municipalizar o estádio do Maracanã, o Theatro Municipal e o Museu da Imagem e do Som, em parcerias público-privadas.
Além de agradecer a Deus e ao apoio da família, Crivella ressaltou a aproximação com a Igreja Católica. “Pela primeira vez eu pude me aproximar da Igreja Católica, e peço aqui um tributo a Dom Orani (arcebispo do Rio presente na cerimônia), que, mesmo em meio às acusações, olhou com bons olhos, com maturidade.” 
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Previ-Rio, IPTU e taxa de turismo
Se a frase de ordem é “não gastar”, Crivella também não poupa na adoção de medidas para o aumento da receita municipal. Auditoria na folha de pagamento — incluindo aposentadorias e pensões —, revisão do IPTU e criação de taxa de turismo estão entre as ações.
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O prefeito classificou a situação do Previ-Rio como “preocupante” e lembrou que o Tribunal de Contas do Município recomendou o desconto previdenciário de inativos do município que ganham acima de R$ 5.189,82. “É recomendação da Procuradoria-Geral do Município também. Agora, não é a minha intenção. Minha intenção é capitalizar o fundo”, declarou ele, mencionando algumas medidas para isso: “A prefeitura tem um patrimônio econômico que se nós conseguirmos capitalizar vamos levar pro fundo. Farei auditoria nos terrenos da prefeitura, muitos deles cedidos a postos de gasolina.”
A revisão de isenções fiscais e de IPTU também será estudada. “A ideia é poder conciliar a capacidade contributiva de cada contribuinte com o que hoje está no seu índice de pagamento do imposto”, disse ele, ressaltando que quem não paga IPTU hoje pode começar a ser cobrado. Crivella afirmou ainda que poderá ser criada uma taxa de Turismo, em torno de R$ 5, e que “é cobrada em todo o mundo”. 
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Novos hábitos já na cerimônia do Palácio da Cidade
Palavra que virou marca deste início de gestão, a austeridade ainda é uma promessa a ser cumprida, mas na cerimônia de transferência de cargo já se notava diferenças em relação à gestão anterior.
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Em vez de um buffet farto, com canapés, sucos variados, e doces finos, o que se via era água servida em jarras, biscoitos e salgadinhos de trigo, popularmente conhecidos como ‘Biscoito Torcida’.
O calor no Palácio da Cidade e a falta de ar condicionado no salão principal eram motivo de piada entre os presentes, muitos deles fiéis de igrejas evangélicas que suavam em bicas em seus ternos. “Acho que o Eduardo Paes mandou desligar o ar para castigar a gente. Está mais quente do que em Bangu”, brincou um aliado.
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A frequência dos convidados também era diferente. Não havia celebridades ou representantes da alta sociedade. As selfies de quem estava pela primeira vez em um palácio, junto a um chefe de Poder Executivo, davam o tom. E Crivella buscou atender a cada um.
Saias-justas também não faltaram. Ex-desafeto e atual aliado do novo prefeito, o pastor Silas Malafaia, conhecido pela verborragia, não foi reconhecido pelos funcionários do cerimonial do palácio, e não conseguiu disfarçar o constrangimento. Assistiu à cerimônia quietinho no canto da sala. 
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O que os cariocas esperam do prefeito
No primeiro dia da gestão do novo prefeito do Rio, O DIA foi às ruas para ouvir dos cariocas o que eles esperam do novo administrador da cidade. Com esperanças renovadas pelo Réveillon, eles pedem serviços essenciais, como Saúde, Educação e Segurança Pública, além de honestidade na política. O cumprimento da promessa de campanha de “cuidar das pessoas” também foi lembrado.
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“Espero apenas que o Crivella cumpra o que ele prometeu: cuidar das pessoas. Espero que ele não seja corrupto e que faça a diferença, porque a cidade está precisando com urgência. É como diz aquela música do Roberto Carlos: “O tempo não para e, no entanto, ele nunca envelhece.” Henrique Souza, 53 anos, músico 
Henrique Souza%2C 53 anos%2C músico Sandro Vox / Agência O Dia


“Espero que, nesse 2017, o próximo prefeito olhe mais para a gente.  Os garis precisam de mais atenção. Vejo muitos colegas com doença por causa da profissão, problemas na pele, na  coluna. Estamos  precisando que olhem para nós.” Érico Andrade Rosa, 47 anos, gari 

Érico Andrade Rosa%2C 47 anos%2C gari Sandro Vox / Agência O Dia

*Reportagens de Caio Barbosa, Jonathan Ferreira e Paloma Savedra