Lá, o ‘horário comercial’ vai das 3h às 17h. Ou seja, fechou o portão, acabou o expediente. Às sextas-feiras não tem visita e também não tem comércio. Mas quando está de portas abertas, o ‘mercadão’ não deixa ninguém na mão. Tem de sacola plástica do Supermercado Guanabara — “É a mais resistente”, as clientes garantem, pagando R$ 0,40 por unidade — a aluguel de tomada para carregar celular e ligar a chapinha de alisar o cabelo e até lingerie para as visitas íntimas.
Tudo o que é vendido no lugar obedece às regras para visitação. A ‘sucata’, como é grosseiramente chamada a comida que o visitante leva para o familiar detido, só entra em embalagens plásticas transparentes, vendidas a preços variados conforme o tamanho. Itens de higiene pessoal como condicionador e creme dental são despejados em sacos plásticos também. Desodorante roll-on só entra sem tampa e sem adesivos para evitar que se escondam chips de celular. Maços de cigarro não entram; fumo, só solto, em sacolas plásticas de tamanho adequado.
Pois é, o espelho é item concorrido. Em alguns lugares custa R$ 1 para ‘usar’. Apesar de passarem em locais onde o mau cheiro e a sujeira imperam, as mulheres não deixam de retocar a maquiagem e ajeitar os cabelos. “Não é mais todo dia que vejo meu filho, quero que ele me veja bonita”, conta uma mãe que não se identificou.
Na loja da Aparecida, o carro-forte são as frutas. Uva e limão, ela não vende. “Não pode, nem cascas de outras frutas. Os presos fermentam e fazem cachaça. Laranja é o que mais sai. R$ 2,50 a sacola com quatro, descascadas”, explica. Quem cumpre a missão de preparar as embalagens é o Seu Geraldo Barbosa, 72 anos. Ele descasca 720 laranjas por dia. “Antes desses muros aí eu vendia biscoito e frutas lá dentro. Depois abri uma loja aqui fora, mas fui roubado, acredita?”.