Policia - Familiares de Edvaldo Viana, de 42 anos, foram no IML para a liberaçao do corpo e pedem por justiça. Alem dele, uma segunda pessoa tambem morreu baleada. Edvaldo Viana, de 42 anos, foi morto na noite desta terça-feira (18), na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. O mototaxista e um homem que estava na garupa da moto foram baleados debaixo de um viaduto que da acesso a comunidade. Moradores acusam a PM pelas duas mortes.
Policia - Familiares de Edvaldo Viana, de 42 anos, foram no IML para a liberaçao do corpo e pedem por justiça. Alem dele, uma segunda pessoa tambem morreu baleada. Edvaldo Viana, de 42 anos, foi morto na noite desta terça-feira (18), na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. O mototaxista e um homem que estava na garupa da moto foram baleados debaixo de um viaduto que da acesso a comunidade. Moradores acusam a PM pelas duas mortes.Reginaldo Pimenta / Agencia O Dia
Por Luísa Bertola*
Rio - "A polícia acha que todo mototaxista é traficante, bandido, aviãozinho", lamentou Paulo Henrique dos Santos Duarte, de 29 anos, enteado do mototaxista Edvaldo Viana, de 42 anos, morto na noite de terça-feira (18), na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. Edvaldo e o garupa da sua moto, identificado apenas nesta quinta-feira como Jhonathan Muniz Pereira, de 23 anos, foram mortos embaixo de um viaduto que dá acesso à comunidade. O mototaxista será enterrado nesta quinta-feira, às 15h, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.
O enteado contou que soube da morte do padrasto por um homem que esteve na casa dele para contar sobre o ocorrido após reconhecer o capacete de Edvaldo. "Eu fui o primeiro a chegar no local, e todo mundo disse a mesma coisa: não teve abordagem policial nenhuma, os policiais não deram ordem pra eles pararem, os policiais não fizeram absolutamente nada, simplesmente alvejaram os dois. O meu padrasto foi morto em frente ao lava-jato, na frente de todo mundo".
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Segundo as testemunhas, Edvaldo foi alvejado ao realizar uma bandalha na região. "Todo mundo faz. É, porque você não precisa voltar, subir a Linha Amarela, pra poder pegar o retorno, pra voltar pro Gardênia, que é onde ele mora. Então, ele foi fazer isso", contou Paulo.
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Paulo relembrou que foi hostilizado pelos policiais militares que estavam no local. "Eu e meu primo procuramos saber com os policiais e eles disseram que estavam lá para poder conter a manifestação. Eu fui em cada viatura que estava baseada ali, próximo ao posto de gasolina, próximo ao um grupo, perguntando e todos eles fazendo a mesma coisa. Ninguém falava nada".
O rapaz contou que depois das tentativas frustradas de descobrir algo com os policiais, ele foi até o local que Edvaldo fez a bandalha. "Vi o sangue, tinha um par de chinelos, tinha vidro quebrado. Cheguei na viatura e perguntei aos policiais que estavam lá. Eles informaram que foram 'dois gansos' que tinham morrido".
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'Arrastados como porcos'
Ainda de acordo com as testemunhas, Edvaldo foi alvejado e caiu da moto, mas sobreviveu em um primeiro momento. Após ser alvejado, vídeos mostram Edvaldo sendo arrastado pelo chão por policiais militares. O mototaxista chegou a ser levado ao Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá.
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"Arrastaram o rapaz no meio da rua primeiro e jogaram ele em um carro, depois fizeram a coisa com meu padrasto. Todo mundo falou que meu padrasto também que foi arrastado. Inclusive, todo mundo falou que o meu padrasto ainda estava vivo. Meu padrasto estava vivo. Que ele caiu com a mão entrelaçadas na cabeça. Jogaram eles, levaram", contou Paulo.
"Os policiais arrastaram eles como porcos. Foi isso que eles fizeram", lamentou.
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Paulo relembrou que quando estava no local, ligou para sua esposa, grávida de cinco meses para contar o que tinha acontecido com Edvaldo e pediu para avisar sua mãe, Maria o que tinha acontecido. 
O rapaz relembrou que ligou para sua esposa, grávida de cinco meses para contar o que tinha acontecido com Edvaldo e pediu para avisar sua mãe, Mirian dos Santos, 49 anos, o que tinha acontecido. "Então, eu cheguei, vi a moto no padrasto, confirmei a placa e pedi pra minha esposa, grávida que estava em casa falar com a minha mãe".
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Quando as duas chegaram no local, elas passaram mal. A mulher de Paulo chegou a cair no chão e bater com a barriga e precisou de atendimento no Hospital Municipal Leila Diniz e mulher de Edvaldo desmaiou ao saber da notícia. Paulo contou que, nesta quinta-feira, a mulher segue com dores na barriga e sua mãe ainda está muito abalada.
No Hospital Cardoso Fontes, Miriam contou ao filho que os policiais desejaram "condolências" mesmo antes dela saber que o marido havia morrido. "Minha mãe falou que os policiais debocharam dela. Inclusive o policial que atirou e falou 'minhas condolências' e ela questionou. Ele seguiu desejando as condolências enquanto outro ria. Minha mãe ainda não sabia da morte".
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Trabalhador
Edvaldo é natural de Maceió e veio para o Rio de janeiro para trabalhar. Na Cidade de Deus, conheceu Mirian. O casal não tem filhos, mas Edvaldo é pai de dois filhos que moram em Maceió. A família relata que Edvaldo sempre foi trabalhador. "Ele trabalhava com mototaxista, entregava a quentinha, rodava no aplicativo, tudo ele fazia de moto, tudo. No dia que ele foi assassinado, ele tinha acabado de conversar com a minha mãe, que só ia ia pegar um último passageiro para poder bater a meta ele. Ele sempre foi de trabalhar assim, não importava se fosse cinquenta reais por dia, se fosse cem, ele só falou que ia bater a meta do dia, que seria mais um passageiro só que ele iria levar".
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Os policiais militares envolvidos na morte de Edvaldo prestaram depoimento à Polícia Civil e afirmaram que o mototaxista estava armado. A arma não foi apreendida porque, segundo a polícia, usuários de crack da região teriam roubado. Paulo retrucou essa informação e defendeu o padrasto. "Essa é a história que ninguém está entendendo até agora. Minha família está indignada tanto pelo fato deles assassinarem meu padrasto e agora querem colocar ele como bandido para poderem limpar a honra deles. Pelo que eles fizeram, pela covardia que eles fizeram, pelo assassinato que eles cometeram, como eles cometem dia a dia em todo tipo de canto", lamentou Paulo.
"O que os policiais fizeram, o assassinato que eles cometeram, não vai ficar assim. Ele não era bandido, traficante. Todos nós somos cidadãos de bem", finalizou Paulo.
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A Polícia Militar informou que a Corregedoria da corporação e a Delegacia de Homicídios da Capital investigam o caso. 
'Negro não pode ter nada novo'
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O rapaz ainda relembrou um episódio que passou com o padrasto. Ele contou que estava trabalhando e a bicicleta quebrou na região da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. "Eu pedi pro meu padrasto me buscar. Sentei na garupa da moto e vim segurando a bicicleta enquanto ele pilotava a moto e fomos abordados de forma grotesca pela PM antes da subida do shopping Via Parque". Ele contou que os agentes já estavam com as armas apontados e ele precisou comprovar que a bicicleta era dele.
"Tive que mostrar minha carteirinha de entrega, tivemos que mostrar nossa identificação e o policial ainda justificou a abordagem porque eram 'dois em uma moto'. Para mostrar o comprovante de venda da bicicleta, tive que ligar para minha esposa para que ela tirasse uma foto e me mandasse. Eu não andava com o documento porque achei que nunca iria acontecer comigo", lamentou ele.

"Negro não pode ter nada novo que é roubado. Quando eles não entram [na comunidade] para matar bandido, eles chegam e matam inocente. Agora eles querem implantar, dizer que viram a arma para sujar a imagem do meu padrasto e limpar a deles, e mais uma vez não vai dar em nada. Mais um vez é o poder contra a população, e a população vai sair perdendo", finalizou Paulo.
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*Estagiária sob supervisão de Cadu Bruno