MPRJ vai investigar sigilo da Polícia Civil às informações de operações em comunidades no Rio
Decisão acontece após a secretaria restringir detalhes e envolvidos na Operação Exceptis, realizada na favela do Jacarezinho no último dia 6. Durante a ação, 28 pessoas morreram
Rio - O Ministério Público do Rio (MPRJ) informou, nesta quinta-feira, que vai investigar os motivos que levaram a Polícia Civil decretar o sigilo de informações sobre as operações em comunidades do Rio. A decisão da 2ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania da Capital acontece após a secretaria restringir detalhes e envolvidos na Operação Exceptis, realizada na favela do Jacarezinho no último dia 6. Durante a ação, 28 pessoas morreram.
O parquet fluminense esclareceu ainda que não se trata de novo inquérito. "No momento não se trata de novo inquérito, mas ofício integrante de procedimento já em trâmite relacionado a operações policiais", diz a nota.
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Na última segunda-feira (24), a Polícia Civil colocou em sigilo por cinco anos o nome de todos os policiais envolvidos na ação do Jacarezinho. O Termo de Classificação de Informação diz que os dados estão em sigilo "em face da segurança e da integridade física dos policiais civis". Embora não seja incomum, especialistas dizem que a decisão prejudica a transparência e pode afrontar previsões da Lei de Acesso à Informação.
A informação foi classificada com o grau "reservado" quatro dias depois que o Estadão registrou um pedido para acessá-la por meio do Sistema de Informação ao Cidadão do Rio. No documento, o estado alega que os dados são "considerados imprescindíveis à segurança da sociedade, da instituição policial e seus agentes" e que sua divulgação "pode vir a prejudicar ou causar risco a planos ou operações estratégicas dos órgãos da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro".
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Preso no Jacarezinho diz que foi obrigado a carregar corpos
Em depoimento à Justiça, um dos seis presos durante a operação no Jacarezinho relatou como foram as supostas agressões dos policiais civis após a sua rendição, ainda na comunidade. De acordo com um suspeito, ele teria sido obrigado a carregar dez corpos e foi agredido com golpes de fuzis e socos por pelo menos 10 policiais. Os vídeos das audiências de custódia e laudos de corpo de delito foram divulgados pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (27).
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"Ele botou a gente pra descer num beco assim, tinha vários corpos assim no beco. E ele falou: 'bora', você vai ser obrigado a levar esses corpos aqui. […] Já comecei a chorar e ele: 'Chora, não'. Querendo pegar minha cara e tacar assim na tripa do moleque que estava para fora", relatou um dos presos.
"Eu falei: eu não vou levar esse daí, não. Aí ele começou a me bater, falando que eu era obrigado a levar. Eu falei: não vou levar não, não vou levar não, não vou meter a mão nisso daí, não. Aí ele: bora, mete a mão logo. Começou a me dar várias porradas para meter a mão. Mais de dez corpos ele fez isso comigo", afirmou em um outro trecho.
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Ao ser questionado se o suspeito lembrava do rosto dos policiais que supostamente teriam praticado as agressões, o preso disse que não tinha como saber pois ele "pisavam na cara falando que não era para olhar para a cara deles".