Rio - “Ele chegou a levantar os braços para cima e dizer que não era bandido. Que era morador. Mas mesmo assim eles atiraram no meu pai. É muito revoltante. Meu pai era um cidadão do bem. Os policiais atirando e mataram o meu pai”, acusou Leonardo Silva, de 31 anos, filho de Hermes Mathias da Silva, de 70. O idoso foi morto na manhã desta quinta-feira durante tiroteio na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio.
No momento em que a vítima foi baleada havia operação da Delegacia de Homicídios (DH) na região. Hermes cuidava de três netos, um deles com Sídrome de Down. Não há informações sobre o enterro.
Na ocasião, outras três pessoas foram baleadas. Hermes chegou a ser levado pelos moradores para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da região onde teria sofrido uma parada cardíaca. Depois,para Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas morreu durante a cirurgia.
Leonardo contou que o pai estava conversando com vizinhos na porta de casa quando foi baleado. Ele havia acabado de tomar café e saído para encontrar as pessoas como fazia todos os dias. "No local, onde aconteceu a morte do meu pai, não tem e nunca teve tráfico igual eles (policiais) estão falando. Eles balearam o meu pai na Rua Augustinho Monteiro. Ele foi atingido na barriga", contou o filho.
O idoso era casado, tinha quatro filhos e nove netos. "O meu pai tinha o maior carinho pelos netos. Agora, eles estão lá em casa chorando e chamando por eles. O que vamos dizer?", desabafou o filho da vítima que completou. "A vida dele é mais um número. Vai virar estatística. Mas vamos correr atrás para tentar justiça", afirma.
Ontem, em protesto, os moradores fecharam a Estrada Marechal Miguel Salazar Mendes de Morais. Em nota, a assessoria da Polícia Civil disse que a DH investiga de onde partiram os tiros e que “um dos baleados estava armado e teria trocado tiros com a Polícia”.
O tiroteio na Cidade de Deus em quem morreu Hermes foi um dos sete confrontos registrados ontem em várias pontos do Rio. Oito pessoas foram feridas, entre elas dois PMs, tiros acertaram o prédio do Comando Militar do Leste (CML) e do Tribunal de Contas do Estado (TCE); o VLT parou por duas horas e 5.414 alunos ficaram sem aulas. O faroeste em sete pontos da cidade foi ocasionado tanto por reações a incursões policiais quanto por disputas de traficantes rivais.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), todas as três vítimas passaram por cirurgia no Hospital Lourenço Jorge e nenhuma têm previsão de alta médica. Segundo a pasta, Leonardo Santana foi alvejado no braço, foi operado e seu estado de saúde é estável. Andreia Piedade, foi baleada na perna direita, foi operada e seu estado clínico também é estável. A terceira vítima, identificada apenas como Marcos, foi atingida na coxa esquerda, também foi medicada e operada. A SMS, não informou qual é o estado de saúde de Marcos.
Reportagem do estagiário Rafael Nascimento