Rio - Um idoso foi morto a tiros na porta de casa, na manhã desta segunda-feira, na Favela Mandela 2, em Manguinhos, na Zona Norte do Rio. A informação inicial dava conta de que Evangelista Cordeiro da Silva, de 71 anos, teria sido vítima de bala perdida, mas tanto o seu filho quanto moradores acusam a PM da morte, com um tiro na cabeça, quando entraram atirando na comunidade. A Avenida Leopoldo Bulhões foi fechada em protesto e objetos incendiados na pista.
"Os policiais já entraram atirando, não interessa quem estava na frente. Quem está na frente eles já 'metem bala', não importa se é bandido ou morador, como o meu pai hoje, que foi atingido sentado na cadeira (sic)", disse o filho, Marcelo Cordeiro da Silva, 37 anos, que trabalha como açougueiro. Ele também afirmou que não havia confronto entre policiais e bandidos na hora do crime.
Marcelo acusa os policiais de tentarem forjar a cena do crime. "Ele estava caído no chão, tentaram colocar a arma na mão dele para falar que era bandido. Só que ele era trabalhador, aposentado", contou, revelando que o pai era dono de um barzinho que ficava no sobrado onde morava na comunidade.
A UPP local não respondeu sobre as denúncias dos moradores e disse somente que os policiais foram atacados quando passavam na localidade, por volta das 10h, momento em que Evangelista foi atingido.
Evangelista estaria lendo jornal na porta de casa quando foi atingido na cabeça. A PM chegou para tentar impedir o protesto na via e o policiamento foi reforçado. A Polícia Civil também esteve no local e recolheu cápsulas encontradas na cena do crime. A Delegacia de Homicídios vai investigar o crime, mas ainda deu nenhum detalhe sobre o caso.
Por conta do tiroteio, duas escolas, duas creches e um Espaço de Desenvolvimento Infantil ficaram sem atendimento nesta segunda-feira em Manguinhos e entorno. As unidades atendem 1559 alunos, segundo a Secretaria Municipal de Educação, Esportes e Lazer.
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação, as escolas estaduais da região não tiveram seu funcionamento interrompido.
A vítima era dona de um pequeno comércio na comunidade, onde vendia bebidas e produtos alimentícios. "Aqui era um sossego. De uns dois meses para cá começou esses tiroteios e acabou a paz", disse um morador, sem se identificar.
Moradores se manifestaram e montaram barricadas com lixo e pedaços de madeira. A ONG Rio de Paz, que esteve na comunidade e vai oferecer apoio psicológico e jurídico aos parentes da vítima, ajudou a conter o protesto. “Ajudamos a comunidade a entender que não era parando o transito do Rio de Janeiro que eles teriam seus direitos defendidos”, explicou Antônio Carlos Costa, fundador da ONG. Depois disso, a avenida foi liberada e a polícia pôde efetuar a perícia.
Ele também disse que estava a caminho da Alerj, para se reunir à tarde com a família de Maria Eduarda, morta em Acari, e a Comissão de Direitos Humanos da Alerj, quando recebeu a informação do ocorrido em Manguinhos e foi para o local. Segundo Costa, lideranças comunitárias e moradores da favela foram unânimes em dizer que os policiais da UPP foram os autores dos disparos que mataram o idoso.
Moradores afirmam que os policiais estão praticando violações de direitos humanos, e reclamam sobre a falta de diálogo entre a comunidade e o responsável da UPP do Arará/Mandela e alguns policiais que trabalham na região. “Propomos que a coordenação geral da UPP Arará/Mandela procure as lideranças comunitárias da área para que haja uma conversa urgente. Os moradores precisam ser ouvidos para que a paz seja reestabelecida no local. As pessoas estão se sentindo inseguras e insatisfeitas, querendo mudanças”, finalizou Antônio Carlos.