Rio - Premiado com o troféu de policial do ano em 2015, devido às diversas prisões realizadas quando estava no 7º BPM (Alcântara), o sargento André Luiz de Oliveira Sodré, o Sobrancelhudo, era um dos responsáveis por comandar uma ala do Grupamento de Ações Táticas (GAT) que mais faturava com arregos, segundo a investigação. Na Favela do Novo México, em São Gonçalo, a equipe comandada pelo militar chegava a receber R$ 3,5 mil por semana. Os lucros eram divididos entre pelo menos sete integrantes da equipe.
“Traficantes da comunidade (Novo México) diziam que só pagavam ao Sobrancelhudo e que os outros GATs podiam fazer operações que iriam ser recebidos a bala”, afirmou o delegado assistente da Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo, Marcus Amin, responsável pelo inquérito que culminou na ação.
Atualmente, sargento Oliveira, como também era conhecido Sobrancelhudo, estava lotado no 18º BPM (Jacarepaguá). Ele foi preso. O dinheiro da propina era pago de diferentes maneiras. Muitas vezes, o pagamento ocorria dentro do 7º BPM, onde os homens ‘contratados’ pelos PMs faziam o elo com tráfico e tinham livre acesso.
De acordo com as informações da Polícia Civil, o GAT do Luiz Fofoca ou Caveirão — o nome era referência aos integrantes terem feito curso no Bope — também era um dos grandes arrecadadores no 7º BPM. A guarnição era chefiada pelo sargento Luís Cláudio Martins Costa, o Luiz Fofoca, que foi preso na Operação Calabar.
“Não havia um grande líder que despontava. Todas as unidades possuíam um chefe que era responsável que dividia o dinheiro e conversava com os traficantes ou o articulador”, explicou o delegado Marcus Amin.
Outro que também recebia do tráfico e chegou a ser preso em abril do ano passado, é o cabo Marcelo Bento Vidile, que foi lotado no Patrulhamento Tático Móvel (Patamo) Coruja. Ele também foi capturado. Nem mesmo o Serviço Reservado (P-2) do 7º BPM ficou imune à propina. As investigações revelam que de 2014 até 2016 uma comunidade costumava pagar R$ 2 mil por semana para os agentes que trabalham à paisana para futuras ações de inteligência.
Propinas altas
O titular da Delegacia de Homicídios da área, Fábio Barucke, explicou que em troca do ‘arrego’ (propina paga a policiais), que chegava a R$ 1 milhão por mês, os agentes não patrulhavam as comunidades. As investigações mostram que as favelas que mais pagavam propina eram o Complexo do Salgueiro (R$196 mil), Morro do Martins (R$ 86 mil) e Jardim Catarina (R$ 76 mil).
“Diálogos mostravam um elo muito forte entre traficantes e PMs. Maus policiais fechavam os olhos e chegavam a receber mais de R$ 1 milhão por mês. Pagamentos eram feitos semanalmente. Em troca deste apoio financeiro, ele davam proteção a marginais e não faziam operações nas favelas”, disse o policial, acrescentando que alguns PMs mostraram interesse em colaborar com apuração do fato.
O policial do ano de 2015
“O sargento André Luiz de Oliveira Sodré, apelidado de Sobrancelhudo pelos criminosos, gostava de posar para as fotos após as prisões e apreensões feitas em comunidades de São Gonçalo. De acordo com a polícia, era tudo ‘teatro’. As apreensões serviam para despistar o foco das ações criminosas.
Ele conversava com o delator do esquema para combinar com os traficantes o local da entrega da propina. Com isso, segundo a polícia, as ações paravam na comunidade parceira ou eram reduzidas. Na Favela do Novo México, a equipe comandada pelo militar recebia R$ 3,5 mil por semana.
‘Arrego’: mais de R$ 2 mil por semana
Há ainda cinco equipes que pertenciam ao GAT do 7º BPM (Marreta, Fantasma I, Fantasma II, Mochilão e Do Peixe) e foram denunciadas pelo Ministério Público. Júlio Cesar de Mattos Harduim, era o chefe do GAT Do Peixe, de acordo com a polícia. O grupo recebia mais de R$ 2 mil por semana como ‘arrego’.
Segundo Marcus Amin, quando a investigação começou, duas facções atuavam em São Gonçalo: Comando Vermelho (CV) e Amigos dos Amigos (ADA) atuando no município. “O Terceiro Comando Puro (TCP) chegou depois e já há um inquérito relacionado a ele”.
Segundo a denúncia apresentada pelo Ministério Público, “restaram amplamente comprovadas, sendo finalmente apurado que boa parte do efetivo do 7º BPM constituiu uma organização criminosa, dividida em núcleos, para fins de praticar crimes de corrupção ativa, entrega, venda e fornecimento de armas de fogo e crime de corrupção passiva militar, previstos no Código Penal Militar”.
55 PMs foram transferidos
Dos 96 PMs com mandado de prisão, 41 eram lotados no 7º BPM. Outros foram transferidos para outras unidades. Sobre a redução no efetivo na unidade, que passará a ter pouco mais de 800 homens, a PM afirmou que está viabilizando mais agentes.
A ação foi a terceira em que o 7º BPM apareceu como alvo de ações da Polícia Civil.
Em 2011, dezenas de PMs da unidade foram presos pelo assassinato da juíza Patrícia Acioli. O tenente-coronel Cláudio Luiz de Oliveira comandava a unidade na época e foi preso. Meses depois, o coronel Djalma Beltrami assumiu e foi acusado de cobrar propinas para não reprimir o tráfico no Morro da Coruja. Foi absolvido em 2014.