Rio - Um dos bandidos que recolhiam propina para policiais corruptos lotados no 7º BPM (São Gonçalo) entre 2014 e 2016 se entregou neste domingo à Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI). O esquema foi revelado quinta-feira com a deflagração da operação Calabar, da especializada, para prender 96 PMs acusados de envolvimento com traficantes de São Gonçalo e 76 bandidos da região.
Foi a maior operação da história do estado para prender policiais envolvidos com crimes. Até agora, 83 PMs e 23 bandidos foram presos. Nélio Almeida Santos Júnior, de 33 anos, estaria com medo de morrer e por isso procurou a especializada. Ele é um dos recolhedores de propina do bando.
Outros que tinham a mesma função também foram presos, entre eles o principal bandido responsável pelo recolhe do 'arrego'. Foi ele quem revelou todo o esquema após ter o benefício da delação premiada ao ser preso no ano passado. As investigações começaram a partir de sua prisão.
Nélio foi até a DHNSGI logo depois que corpos carbonizados foram encontrados pela especializada na Rua Bento Pestana, ao lado da barreira, na Cova da Onça, Morro do Castro, em São Gonçalo. Os corpos estão tão queimados que a polícia só consegue saber que tem mais de um, mas não consegue contar quantos são.
Agentes da DHNSGI vão investigar se eles têm relação com a operação Calabar. Fontes dizem que seria queima de arquivo ou 'recado' para os bandidos para não falarem nada se forem presos. "Ainda não há nada que ligue esses corpos à operação, mas vamos investigar sim", disse o delegado-adjunto da DHNSGI, Marcus Amin.
Além de pegar propina dos traficantes, os PMs sequestravam bandidos em troca de dinheiro, chegaram a tomar uma boca de fumo dos traficantes e vender a droga mais barata, mandavam os criminosos roubar carros e vendiam para os bandidos armas do espólio de guerra (armas apreendidas e não apresentadas à delegacia).
Os policiais presos irão responder pelos crimes de organização criminosa armada com a participação de funcionário público (pena de 3 a 8 anos), corrupção passiva (de 2 a 8 anos) e fornecer arma de fogo (de 3 a 6 anos). O nome da operação faz referência a Domingos Fernandes Calabar, considerado o maior traidor da história brasileira.